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PORTUGAL+ Bruxelas: dizer “emigrante” e “mercado da saudade” ainda faz sentido?

© Ricardo Silva / BOM DIA

Conceitos de “emigrante” e de “mercado da saudade” foram alvo de reflexão na apresentação do estudo “A diáspora e os territórios”, pelo professor António Azevedo, na conferência PORTUGAL+ Bruxelas 2023, sobre o impacto da diáspora na economia portuguesa.

Qual a contribuição dos portugueses a viver no estrangeiro para a economia do turismo em Portugal? Esta é a pergunta a que o estudo “A diáspora e os territórios”, a ser desenvolvido pelo professor António Azevedo, da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e investigador no Lab2PT- Laboratório da Paisagem, Património e Território, pretende responder.

Entre os objetivos do estudo está o propósito de mapear a jornada dos consumidores portugueses, que vivem no estrangeiro, em Portugal, nomeadamente durante as deslocações em lazer, trabalho ou em visita a amigos e familiares, de forma a encontrar “personas”, ou seja, perfis típicos de cada consumidor, numa tentativa de confirmar ou desconfirmar aquilo que são os estereótipos da diáspora.

No decorrer da intervenção, dois dos conceitos presentes no estudo chamaram a atenção e foram alvo de observações do público: o conceito de “mercado da saudade” e o de “emigrante”.

O deputado Paulo Pisco, eleito pelo círculo da Europa, interveio realçando a importância do investimento da diáspora em Portugal, mas apontando para a questão da referência ao “emigrante”: “hoje há muitos [portugueses] que são considerados emigrantes e na realidade não são. Quando se fala em segunda geração, um descendente de portugueses que nasceu aqui na Bélgica ou em França não é um emigrante”, disse. 

Segundo o governante, há uma conotação negativa “que vem da cristalização de um preconceito e de uma ideia que vem desde os anos 60 ou 70 e que hoje em dia já não representa a realidade”.

António Azevedo concorda que o paradigma que encontramos hoje em dia na diáspora é muito diferente de há uns anos, com novos conceitos emergentes como os nómadas digitais, o trabalho remoto, ou mesmo “pessoas que permanecem três meses fora e depois regressam”.

O professor explicou que o estudo, embora não seja uma amostra suficientemente representativa, servirá para tentar mapear essa jornada e perceber quantos perfis homogéneos existem.

Luso-eleita no Luxemburgo e tradutora de profissão, Maria Eduarda de Macedo, que vive no país há vários anos, concorda que “o termo emigrante merece ser mais refletido”.

“Curiosamente nós, portugueses, somos os únicos que continuamos a falar de emigrantes. Um anglosaxão não diz que é emigrante, diz que é ‘expat’ (expatriado). Todas as outras comunidades que conheço no Luxemburgo são ‘expats’”, explica Maria Eduarda. Segundo a mesma, esses portugueses “não se consideram emigrantes, são portugueses”.

Desta discussão, surgiu um novo desafio lançado pelo professor: “como é que os portugueses que vivem fora de Portugal se querem identificar”? Nelson Rodrigues apoia: “determinar que conceitos que nós utilizamos, não deixar a terceiros que determinem a linguagem que nós aplicamos, é muito decisivo”.

Outro conceito que surgiu na apresentação do estudo foi o “mercado da saudade”, termo utilizado para referir os produtos de marcas portuguesas que se encontram à venda no estrangeiro, consumidos pela diáspora.

O jovem lusodescendente nascido em Paris, Tiago Martins, considera que este “talvez também seja também mercado por patriotismo”. “Eu, quando compro português, é porque quero ajudar o país, quero contribuir para ajudar a produzir em Portugal, criar emprego”, explica.

Maria Eduarda de Macedo apoia, referindo que não é a saudade, mas a qualidade que a faz optar pelos produtos. “Quando compro vinho português não é por ter saudade, é porque é bom. Não é uma questão de saudade, é a qualidade, e eu penso que é importante reforçar esse aspeto”.Todos os portugueses que vivem fora de Portugal são convidados a participar neste estudo, através do inquérito online anónimo que vai estar ativo até dia 15 de dezembro de 2023  para recolher dados.

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