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O preconceito com a linha de Cascais

Tenho assistido em alguns programas de televisão ao achincalhar dos residentes na linha de Cascais sobre o “status quo” privilegiado em relação ao restante país.  Nada mais falso. O privilégio de morar ao pé de praias e de estar perto de Lisboa,  enche de inveja uma faixa da população e que usa alguma pronúncia da Quinta da Marinha para rotular mais de 300 000 habitantes que moram entre o concelho de Oeiras e Cascais. 

Cresci em Oeiras e tenho bastante família em Cascais. Cresci paredes meias com o antigo bairro de barracas “Alto de Santa Catarina”… e tive e tenho amigos de todas as classes socias, raças e etnias….

No entanto,  a carência que se vivia e ainda se vive em Oeiras e Cascais fez-me ser assaltado na minha infância pelo menos umas quinze vezes. Lembro-me bem de ter tido uma escola pública primária onde dois terços dos alunos eram filhos de cabo verdianos com extrema carência económica residentes no bairro que vos falei. Quem anda ou andou na escola pública em Oeiras também sabe que há duas famílias ciganas que predominam no concelho e que os timorenses que viviam em barracas no Jamor estão em Caxias… Hoje muito destes ex moradores das barracas vivem até mais perto do concelho de Cascais, mais precisamente no Bairro Marquês de Pombal em Oeiras, no Bairro dos Navegadores em Porto Salvo ou então no Bairro dos Barronhos em Carnaxide. 

A vida de um adolescente desta zona da linha é feita de comboio e de transportes públicos… Algumas destas escolas da linha ainda se encontram em pior situação do que as escolas da Damaia ou da Buraca como foi recentemente notícia as condições que se fazem sentir na Escola Secundária de Linda a Velha onde estuda uma das minhas filhas. Uma escola que se encontra igual há 40 anos quando convivia paredes meias com o pior bairro de lata do país: o bairro da Pedreira dos Húngaros.

Oeiras e Cascais, hoje são zonas muito envelhecidas de uma população que até já teve uma vida melhor e que empobreceram bastante devido a mais de duas décadas de socialismo. Por isso podem os populistas vir para a televisão dizer que são do Algueirão, de um bairro em Setúbal ou de Almada que quem é da linha sabe as dificuldades que viveu no mesmo Portugal que todos os outros portugueses, talvez em paredes meias com um problema social de inclusão social que outras zonas do país não passaram após o 25 de Abril por estarem bem mais longe do aeroporto e da chegada de imigrantes e retornados sem condições para sobreviver.

Quem é desta zona convive e conviveu com os primeiros fenómenos de arrastões de roubo nas suas praias e nos assaltos nas ruas em Cascais que encheram telejornais e que são provenientes das “bolsas de pobreza” que existem nestes concelhos da linha por isso não me venham dar lições de “dureza de vida” aos residentes da linha porque já cá andamos a sobreviver há mais tempo neste género de problemas sociais…e quando virem no telejornal os lojistas de Cascais a serem assaltados lembrem-se que os assaltantes não têm certamente a pronúncia da Quinta da Marinha… mas que provavelmente também são de Oeiras e Cascais…

Paulo Freitas do Amaral

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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