Para M. e K.
Noite de primavera temporã. Vai alta a lua.
Três estranhos cruzam-se numa encruzilhada que junta três estradas. Ele, cavaleiro-monge numa montada parda, elas, donzelas amazonas, uma num cavalo negro, a outra num cavalo branco. Uma que parece ruiva, cabelo em fogo, a outra de cabelo negro brilhante. Lindas como o dia, que ainda vem longe. O cavaleiro estremece e lembra-se que fez voto… de pobreza.
Do sul sopra uma brisa agradável, que convida ao convívio e alegres decidem partilhar uma fogueira junto a uma cerejeira em flor.
Mas vão também partilhar a sua vida, as suas viagens por essas terras e ermos, e dividem o vinho e o hidromel. E dançam, alegres. E beijam-se e riem-se e despem-se.
Os corpos desejam-se, aproximam-se, tocam-se, sentem-se, colam-se, misturam-se, trocam, as bocas, as línguas mesclam-se, os cheiros, os suores, os gemidos também.
E o prazer vem em ondas sucessivas e mornas sob os raios concupiscentes da lua cheia. Os corpos arqueados arfam, as bocas sôfregas, os sexos penetrando-se alternadamente em catadupa, em vagas ardentes de vontade e tesão. Os braços pedem mais, os dedos casam-se, os olhos em convulsão, vêm espasmos e orgasmos. O êxtase triplo vem em cascata e os corpos unidos desenham com a sombra da cerejeira a silhueta frenética de um animal mitológico que tivesse sido ferido pela sua própria flecha e sofresse lancinante.
O estranho centauro tomba por terra e parece exalar.
A madrugada curiosa acerca-se, mas os corpos e as bocas já se apartam.
Cada um segue um caminho diferente, mas leva dos outros mais que desejo, e saliva, e seiva, e vontade. Leva um pouco da alma e da única viagem que fizeram juntos.
JLC01042017