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Crescimento da extrema-direita alemã faz soar alarmes de Bruxelas

A menos de um ano das eleições europeias, a ascensão do partido alemão Alternativa para a Alemanha (AfD) e outros da extrema-direita europeia coloca em causa o atual ‘cordão sanitário’ no Parlamento Europeu (PE) a estas formações radicais.

Em alta nas sondagens, embalado por sucessos eleitorais locais e a celebrar uma convenção precisamente para preparar as eleições europeias de junho de 2024, o AfD ‘ameaça’ duplicar a sua representação no PE no próximo ano. Com as sondagens a nível nacional a darem atualmente a esta força de extrema-direita cerca de 20% por cento das intenções de voto, o partido conta passar dos atuais nove eurodeputados para 20.

Considerado um partido “eurocético moderado” aquando da sua criação, há 10 anos (2013), o AfD é hoje assumidamente contra o projeto europeu. Durante a convenção que decorre em Magdeburgo, e durante o qual os delegados do partido elegeram como cabeça-de-lista às eleições europeias o polémico eurodeputado saxão Maximilian Krah, apoiado pela ala radical do partido, a co-líder da formação, Alice Weidel, assumiu como objetivo do AfD a nível europeu “esvaziar o pântano de corrupção” em Bruxelas – recorrendo a uma expressão usada por Donald Trump em relação a Washington, na sua campanha para as presidenciais de 2016.

Sustentando que a União Europeia (UE) é “profundamente antidemocrática”, Weidel declarou que “o que é necessário é uma Europa de pátrias”, o “reforço dos Estados-nação” e a construção de uma “Europa fortaleza”, blindada contra migrantes e requerentes de asilo.

A popularidade de que goza hoje o AfD na Alemanha está, no entanto, longe de ser um caso isolado na UE, e, na convenção que decorre em Magdeburgo, o partido aprovou o ingresso na aliança radical de direita Identidade e Democracia (ID), que inclui várias forças de extrema-direita da Europa, tais como o Partido da Liberdade da Áustria (FPO) – no topo das sondagens com vista às eleições nacionais que se realizarão também em 2024 -, a União Nacional francesa de Marine Le Pen, e a Liga italiana de Matteo Salvini.

Além do ID, que tem hoje em dia 65 eurodeputados, outra bancada do Parlamento Europeu, a do Grupo dos Conservadores e Reformistas (ECR, na sigla em inglês), que tem 62 eurodeputados, acolhe no seu seio formações de extrema-direita como os Irmãos de Itália, de Giorgia Meloni, o partido ultraconservador polaco Lei e Justiça de Mateusz Morawiecki – ambos no poder -, ou ainda os espanhóis do Vox.

O ID e o ECR são as quinta e sexta forças políticas do Parlamento Europeu, atrás de PPE, S&D e Renovar (Liberais) e ainda dos Verdes.

Numa altura em que a extrema-direita já está no poder em vários países, à cabeça do governo ou como parceiros vitais, como sucede na Suécia e na Finlândia, de acordo com as mais recentes sondagens o ECR pode subir para os 82 deputados e o ID para os 72 na próxima legislatura, enquanto PPE, S&D e Liberais manteriam, entre si, a maioria absoluta no Parlamento Europeu. Resta saber se esta ‘aliança informal’ entre as três formações é para manter.

Tal como já se debate, a nível interno na Alemanha, até que ponto subsistirá o ‘cordão sanitário’ formado pelas forças políticas democratas para evitar qualquer aproximação da extrema-direita a posições de poder, também a nível europeu começa a levantar-se a questão sobre até quando as três principais forças democratas – os conservadores do Partido Popular Europeu (PPE), os Socialistas Europeus e os Liberais – manterão a sua unidade na rejeição de alianças de qualquer tipo com a extrema-direita.

A questão coloca-se designadamente ao PPE, a maior família política europeia, de centro-direita, em cujo seio há diferentes correntes de pensamento, e cujo líder, Manfred Weber, tem dado sinais de alguma aproximação ao ECR e a Meloni.

Contudo, e face à controvérsia já em curso sobre possíveis alianças com forças radicais, Weber já garantiu que o grande inimigo do PPE na campanha para as eleições europeias de 2024 é o AfD, mas não rejeita pactos com o ECR.

Outra figura de peso desta família política, o sucessor de Silvio Berlusconi como líder do Forza Italia, Antonio Tajani, atual ministro dos Negócios Estrangeiros italiano no governo de coligação de direita e extrema-direita, e antigo presidente do Parlamento Europeu, já garantiu que é “impossível qualquer acordo” do PPE com o AfD ou com “o partido da senhora Le Pen”. Isto apesar de, a nível nacional, ser parceiro de coligação do eurocético Salvini, do ID.

Já quanto ao ECR, Tajani também abre a porta a uma aliança, que faria, no entanto, o PPE perder a ‘amizade’ da terceira maior família do Parlamento, a do Renovar (Liberais), cujo secretário-geral, Sandro Gozi, alertou que esta bancada dirá “não, alto e bom som”, a qualquer aliança com a direita radical, que, sustentou, seria “incompatível com a natureza do Parlamento Europeu”.

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