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24horas: fechou o único jornal diário das comunidades

O jornal 24horas publicou esta semana a sua última edição nos Estados Unidos, encerrando 25 anos dedicados às comunidades portuguesas e aos leitores lusófonos nos estados de Nova Jérsia e Nova Iorque, disse à Lusa o diretor do periódico que era o último das comunidades a publicar diariamente uma edição em papel.

Num anúncio aos seus leitores na rede social Facebook, o diário indicou que a edição número 7.500, publicada na quinta-feira, foi a última, após um longo percurso “fruto de paixão, dedicação, inovação e sacrifício”. 

“Alcançámos a edição número 7.500, ou seja, o maior número de edições de sempre por uma publicação de língua portuguesa nas comunidades espalhadas pelo mundo. Trouxemos até si milhares de notícias e acontecimentos locais, nacionais e internacionais, e, pelo caminho, divulgámos o património da Língua portuguesa tão longe e tão perto de si”, diz a publicação.

Em declarações à Lusa, o diretor do jornal, Victor Alves, explicou que fatores financeiros e o envelhecimento das comunidades contribuíram para o fim deste jornal.

“Tudo tem um fim e escolhemos encerrar a atividade quando atingimos as 7.500 edições porque é um número bonito e acho que é um recorde mundial, na medida em que um jornal comunitário diário conseguiu atingir esta marca, com tantas edições”, disse.

“Em relação às razões do encerramento, no último ano e meio – e trata-se de um fenómeno mundial – todos os jornais em papel começaram a ter grandes dificuldades para sobreviver. No caso especial do 24horas, a comunidade portuguesa é envelhecida, os jovens já não leem jornais em papel, recorrendo antes aos telemóveis e computadores”, começou por explicar Alves, que esteve no jornal desde a sua fundação, em 1998.

A par de uma comunidade portuguesa envelhecida, também vários negócios portugueses, que durante mais de 20 anos apoiaram o jornal a nível comercial e publicitário, fecharam portas, “sendo substituídos por outras nacionalidades, como brasileira, colombiana ou indiana”, situação que acabou por deixar o 24horas mais debilitado financeiramente.

 “Portanto, no último ano, era já difícil manter o jornal ativamente. A partir daí, este projeto deixou de ser comercial e passou a ser social, porque mantive o jornal durante um ano e pouco numa modalidade que não era para mim um negócio, mas apenas um serviço que eu fazia às comunidades”, declarou.

A “gota de água” foi quando, nos últimos três meses, Victor Alves teve de começar a colocar do seu próprio dinheiro para manter o jornal em atividade.

“Nos últimos três meses, já nem um projeto social era, porque eu já tinha de pôr dinheiro para manter o jornal. Então esperamos por esta data mais simbólica, em que atingiríamos as 7.500 edições para fechar”, concluiu, enaltecendo a “grande honra” que foi servir as comunidades portuguesas nos Estados Unidos.

Com sede no Ironbound, onde se concentra uma significativa comunidade portuguesa residente na cidade norte-americana de Newark, o jornal doará todo o seu arquivo à Biblioteca Pública de Newark.

As reações ao encerramento deste jornal não se fizeram tardar, com inúmeras mensagens a lamentar esta perda para as comunidades, mas a enaltecer também o percurso do diário impresso.

“A imprensa Portuguesa ficou mais pobre hoje… Obrigada à família Alves pelos 25 anos dedicados a língua e diáspora portuguesa com o 24horas Newspaper”, escreveu na rede social Facebook a luso-americana Isabelle Coelho-Marques.

“Além da comunidade ter perdido uma plataforma para que a sua voz se fizesse ouvir, encerra-se aqui um ciclo de uma assídua presença da língua Portuguesa no jornalismo da diáspora. 7.500 dias seguidos, a operação diária de uma equipa reduzida foi levada a cabo com mestria, garantindo que vozes vindas de Portugal pudessem ser lidas em Português nos EUA, assegurando-se assim mais um elo de ligação às raízes lusas. As mesmas raízes que inspiram a nossa diáspora”, escreveu por sua vez o jornalista Carlos Ferreira.

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