Cândido esplendor
tudo menos inocente
madrugada da minha perdição
foste relâmpago que me atravessou na noite escura
fogo que me arrancou do chão,
luz tão pura,
sol a deflagrar sobre os meus oceanos
ventania que se alevantou sobre a minha plenitude
tempestade, terramoto, richter sete
o meu peito a rebentar em mosquete
pelotão de fuzilamento em riste
o teio em desalinho
numa noite de desatino
e eu de peito rendido.
Como pode um coração ter dois amores
o teu, o meu, tão imperfeitos estes corações.
a mecânica imperfeita, desconcertada,
e nós à procura do conserto, do concerto, do que é certo…
Mas o amor quer lá saber, o amor só tem quereres.
Como se o Amor fizesse sentido. Tão tolos, tão loucos…
E nós, que queríamos tudo, de tanto querer,
quase fomos, quase somos, quase-amor,
quase-vontade, quase tudo, fomos quase nada.
E nós, que queríamos tudo, este tanto-querer foi demais
chegou cedo, chegou tarde, não chegou a ser.
Mas tu és, goma de cereja, janela em flor,
menina-sorriso, olhos doces, gargalhada luminosa e genuína,
que mais posso eu querer do amor?
Juntos à beira do precipício, a vertigem, o medo. Vem, voa comigo!
Saltei sozinho. Ah, mas o voo…
E a queda vem sempre depois. Enquanto não bater no chão, estou bem. Menina, quanto tempo dura este voo?
E o que sobrou são gomas que guardei para ti
para te dar numa manhã de primavera que não aconteceu.
JLC11042017