Quando vivi em Bragança, frequentava uma cafetaria, que ficava na Praça da Sé, mesmo no centro da cidade.
Após o jantar, vinha tomar cafezinho, e permanecia até às vinte e três horas, a ver televisão, ou a conversar com habituais fregueses do estabelecimento.
Por vezes ficava a cavaquear com o Primeiro-Sargento Mário – homem natural de Vinhais, – que primava pela bondade e vivia em modesta pensão.
Nessas amenas conversas, em que quase todos os temas eram abordados, muitas vezes ouvia-o dizer: “Ninguém devia ganhar menos que a mensalidade de pensão de terceira”.
E eu logo acrescentava, conhecendo as miseráveis pensões, que se recebia: – “Que nenhum reformado devia auferir menos, que a mensalidade de lar modesto”.
Lembrei-me dessas agradáveis conversas, ao ouvir amiga minha, senhora idosa, que ficando viúva, resolveu recolher-se a lar.
Como estes, para além da mensalidade, exigem “joia”, a senhora vendeu o apartamento, onde vivia, para pagar a entrada.
Decorrido escassos meses, verificou que fora enganada: o tratamento prestado era inferior ao prometido, e a delicadeza do pessoal, não era recomendável.
Aflita, depois de muito matutar, resolveu abandonar a casa de repouso; e com a magra pensão, que deixara o marido, alugou casa.
É o drama da maioria dos idosos que vivem em Portugal, já que as reformas que usufruem, mal paga a estadia de lar modestíssimo.
O drama agudizou-se, nos últimos anos, ao se saber que reformados, de países europeus, com melhores aposentações, procuram passar o fim de vida em Portugal, onde podem levar vida quase principesca, em lares de luxo.
Estando a conversar num clube portuense, sobre a triste situação de alguns idosos, num grupo de amigos, levantou-se uma voz, para dizer que a Igreja poderia ajudar, ganhando. Como?
– ”Bem fácil – continuou – Há conventos que se encontram quase vazios. Se os transformassem em lares, recebendo parte das reformas dos utentes, ganhariam por certo, e estavam a ser úteis à sociedade”.
A ideia foi aplaudida, tanto mais, que acrescentou:
– ”Cabe ao Estado, a obrigação, de cobrir a mensalidade daqueles cujas pensões sejam diminutas. Ser português e ter vivido em Portugal, devia servir para alguma coisa…”
Claro que referia-se a residências, onde o idoso não se sentisse prisioneiro: obrigado a dormir com desconhecidos, e onde se passa o dia, diante de aparelho de TV, com manta nas pernas, e as noites, tomando sedativos, para não incomodar…