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Cardeal Tolentino de Mendonça: a diáspora enriquece a língua portuguesa

© Raúl Reis / BOM DIA

O cardeal José Tolentino de Mendonça deslocou-se ao Luxemburgo, para presidir às celebrações de Nossa Senhora de Fátima em Wiltz, no norte do grão-ducado esta quinta-feira. Na véspera proferiu uma palestra intitulada “A língua portuguesa é frátria, mátria e pátria”, no âmbito do Dia Mundial da Língua Portuguesa.

A diáspora portuguesa esteve no coração da conferência que o cardeal proferiu no Centro Cultural Português. “Não há emigração sem dor.”, começou por afirmar o clérigo, que se inclui a si próprio entre os emigrantes, mas, positivou esse aspeto doloroso da vida como diáspora: “esse processo é também um de descoberta de vitalidade. Habitar entre cá e lá. Num imaginário que carrega consigo a impossibilidade de ser uma coisa só”.

Tolentino de Mendonça considera que “o português é uma identidade na história. E a diáspora visibiliza isso: mostra que a identidade não é uma repetição das origens nem a aderência aos modelos dos países onde chegamos”. E essa conjugação de línguas e culturas é uma riqueza, considera: “na diáspora o português enriquece muito e torna-se capaz de novas sínteses. A aparente fragilidade do português da diáspora é um grande contributo para a língua portuguesa”.

A língua portuguesa das diáspora tem, segundo defendeu Tolentino de Mendonça “Pode ser “uma força poética” que deve ser respeitada. Longe de ser um purista, o cardeal crê que “a língua não se pode fechar dentro dela. Tem de se abrir”. Té porque a língua não tem um criador único, “os seus criadores são todos os seus falantes” que a constroem e fazem nascer e renascer.

“A língua deve muito aos escritores, poetas e lingusitas, mas deve tudo à corrente sem fim dos anónimos. À conversa informal que acontece na rua, à conversa de café”, considera Tolentino de Mendonça que vê a diáspora como “parceira nesta construção da língua portuguesa”.

A língua é uma pátria mas é também mátria, defende, explicando o título da palestra. Fala-se de língua materna, uma expressão curiosa porque as mães são mediadoras primordiais dos filhos com o mundo. E são elas que ensinam a língua”. É por isso que a língua tem uma “noção afetiva inultrapassável. Com a língua temos uma relação de amor, profundamente afetiva”, explicou. 

O cardeal Tolentino mencionou então as canções de embalar, entoando uma que a sua mãe lhe cantava e que cantou depois aos netos, porque “as canções de embalar são uma forma de nos trazer a língua e de acompanhar as crianças no sono transmitindo confiança. Enquanto escutar as palavras da canção a criança sabe que não está abandonada”. 

“O português é assim língua-mãe porque faz parte da nossa biografia”, acrescentou, explicando então como a língua é igualmente pátria, socorrendo-se de Camões que vê como “um dos maiores portugueses”, porque deixou a herança da língua e da poesia “que antes dele se escrevia de outra maneira”.

Por fim, “a língua como frátria vê-se claramente neste contexto de emigrantes”, onde a língua é uma identidade da diáspora. “Os emigrantes não são só embaixadores da cultura portuguesa mas são coprotagonistas e coprodutores culturais que revelam um Portugal que os portugueses de lá ainda não sabem deles é uma língua que Portugal ainda não conhece”.

“No Luxemburgo há um dialeto”, defendeu Tolentino de Mendonça, que Portugal tem de ouvir, tal como deve ouvir os portugueses de todas as diásporas. “Portugal tem de escutar a diáspora para se perceber aquilo que ele é. Porque há uma visão errada do emigrante e da sua língua e cultura”, acrescentou. 

“O que vocês emigrantes estão a viver é uma aventura cultural”, acredita o cardeal que apelo ao relançamento das diasporas “como grandes laboratórios criativos da língua portuguesa”. 

O cardeal Tolentino de Mendonça participa esta quinta-feira, com o cardeal Hollerich do Luxemburgo na cerimónia de celebração da Senhora de Fátima de Wiltz. Apontado como um homem muito próximo do Papa Francisco, é Prefeito para o Dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé, tendo sido anteriormente arquivista da Biblioteca e Arquivo Apostólico do Vaticano, onde vive desde 2018. No ano seguinte foi nomeado Cardeal pelo Papa Francisco e é apontado por muitos analistas como um provável sucessor do atual Papa.

Veja aqui a palestra completa de José Tolentino de Mendonça no Luxemburgo:

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