Quando a poesia murmura, eu digo canta,
Quando a poesia passeia nos campos de feno
Eu grito sons fogosos de amores
E lhe dou meu regaço fresco e moreno.
Quando a poesia murmura, eu digo, sou fogo que consome
E me deleito com os cantares das fontes
E procuro, as urzes e giestas dos montes
E atiro uma pedra relâmpago certeira
Que entre num coração cheio de fome.
Quando a poesia murmura, ponho meus louros velhos
E procuro sustentar o tempo e o sabor de um beijo
Molhado, cicatriz doce de uns lábios vermelhos.
Quando a poesia murmura, eu clamo minha beleza
Com sangue e granito, nudez que assumo por dentro
Num corpo de brilho, perfil e com certa nobreza
Que se traduz alento, ritmo e sem sofrimento.