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Uma viagem à Hospedaria da Dona Maria da Conceição

A doçaria conventual não me deixa de surpreender, a lista de doces é extensa e abrange todas as zonas de Portugal, de Norte a Sul. Apenas com a fusão dos mesmos ingredientes de base, se criaram várias receitas, que desde do século XV, são a grande final de deliciosas refeições. Mas a beleza destes doces, não está só na sua confeção ou no resultado final, mas também na história de como surgiram.

Estamos no ano 1896, saímos em viagem numa charrete em direção à Figueira da Foz, com o intuito de visitar a família. A viagem é cansativa, por estradas de terra batida.

À medida que se avançava no caminho, ouvimos o som das rodas de madeira a estalar e o galopar dos cavalos ofegantes a quebrar o silêncio que nos rodeava.

No ar, a brisa marinha, mistura-se com os cheiros da floresta.

Ao longe, aproxima se a única hospedaria, no caminho de Coimbra à Figueira da Foz, a Hospedaria da Dona Maria da Conceição, que é muito famosa pela sua prestigiada cozinha, onde se destaca a confeção do Cabrito, o Lombo de Porco assado no forno a lenha e a Lampreia, mas as suas iguarias não se ficavam por aqui.

Após o encerramento do Convento da Nossa Senhora do Carmo, um familiar da Dona Conceição que era freira, ensina-lhe a receita dos delicados Pastéis, que mais tarde adotaram o nome da vila de Tentúgal.

A sublime elegância do Pastel de Tentúgal, o seu folhado fino e estaladiço único na doçaria portuguesa, o seu doce de ovos e o seu requintado toque de amêndoa seduz qualquer palato.

O processo de confeção destes pastéis é tao minucioso, que o torna sensível às alterações atmosféricas, exigente quanto à qualidade dos ingredientes usados e ao manejo de quem os faz, isto porque a qualidade do resultado final destes pastéis tem muito a ver com os “saberes” da sua confeção.

A confeção começa pela massa, chamada nos dias de hoje massa filo, uma massa muito delicada e fina, que é esticada de tal modo transparente ao ponto de se conseguir ver o sol através dela. O recheio resulta da mistura de ovos e amêndoa ralada, com uma calda de açúcar em ponto pérola. No final, temos um pastel onde a massa envolve um recheio de cor amarelada, polvilhada de açúcar e canela em pó, que se dissolve na boca e enche o coração.

No século XV, sem dúvida que todos os viajantes que se deparavam com uma sobremesa destas, tinham força e coragem para enfrentar qualquer adversidade da sua viagem, até chegar ao seu destino.

Pastéis de Tentúgal (receita não original):

Ingredientes

20 colheres de sopa de água

20 colheres de sopa rasas de açúcar

10 colheres de sopa de amêndoa ralada

10 Ovos

10 Folhas de Massa Filo

½ chávena de manteiga

Confeção:

Num tacho junte 20 colheres de sopa de água com 20 colheres de sopa de açúcar e deixe atingir o ponto pérola.
Aproveite e separe as gemas das claras de 10 ovos e passe as gemas pela peneira, deixando cair para dentro de uma taça.
Assim que a calda estiver no ponto pérola, deite um pouco nas gemas para temperar e de seguida, envolva as gemas no tacho da calda, mexendo sempre e leve novamente ao lume para que cozam.
Quando o doce de ovos estiver no ponto retire do lume e deixe arrefecer completamente, misture a amêndoa ralada.
Entretanto ligue o forno nos 180º enquanto monta os pastéis.
Traga a massa filo do frio, e corte cada folha ao meio, sobrepondo as duas metades.
Antes de rechear pincele a folha de filo com água e açúcar, deite 2 colheres de recheio numa das pontas e enrole sobre si até ter uma forma de charuto. Dobre as extremidades para dentro, dê um beliscão e disponha sobre um tabuleiro forrado com papel vegetal.
Leve ao forno por 10-15 minutos ou até estar dourado e sirva polvilhado com canela e açúcar em pó.

Dévora Cortinhal

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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