Quando a poesia acorda, eu lhe digo canta,
Quando a poesia passeia nos campos de feno
Eu grito sons fogosos e maduros de amores
E lhe dou meu regaço fresco e moreno.
Quando a poesia desperta, sou fogo que consome
E me deleito com os cantares das fontes
E procuro, as urzes e giestas dos montes
E atiro uma pedra relâmpago certeira.
Quando a poesia acorda vem cheia de fome.
E um raio de inspiração chega na hora certeira
Quando a poesia acorda, ponho meus louros velhos
E procuro parar o tempo e saborear um beijo.
Quando a poesia acorda traz-me os ais de volta
Então olho nos seus olhos azuis e faiscantes
E noto que caminha ligeira e solta
E que quer montar seus sete cavalos possantes.
E vamos então passear nas vinhas e pinheirais
E dos pinheiros caiem pinhas e caruma
E para uma terra distante leva o vento meus ais
É então madrugada e gritamos à uma à uma
Se não dormirmos no castelo dormiremos na caruma
E ao luar contemplaremos o céu com toda a sua beleza
E a nostalgia nos faz gritar: à uma à uma
O poema será nosso em tamanho e grandeza .
José Valgode