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#poesiaarteemportugues: Natália Correia

Caro leitor,

O Dia Mundial da Poesia é hoje. Venha comemorar connosco! Deixe-se encantar por este nosso património inconfundível!

Por: Patrícia Barata

Poema VI

 

“O Poema” de Natália Correia

 

O poema não é o canto

que do grilo para a rosa cresce.

O poema é o grilo

é a rosa

e é aquilo que cresce.

 

É o pensamento que exclui

uma determinação

na fonte donde ele flui

e naquilo que descreve.

O poema é o que no homem

para lá do homem se atreve.

 

Os acontecimentos são pedras

e a poesia transcendê-las

na já longínqua noção

de descrevê-las.

 

E essa própria noção é só

uma saudade que se desvanece

na poesia. Pura intenção

de cantar o que não conhece.

in Poemas, 1955

 

Natália Correia (1923-1993)

Natália Correia foi uma das mais notáveis figuras do universo literário português do Séc. XX, e foi-o numa altura em que à maioria das mulheres estava vedada essa possibilidade, quer pelas imposições sociais como pelas imposições políticas. Dizem dela o seguinte: “Estávamos decididamente perante uma pessoa incomum. Desinteressada do plano social e da projecção mediática, Natália era diferente e valia a pena. Era um desses seres raros que nascem para tornar a vida mais livre, mais bela, uma aventura fascinante e maravilhosa” (Ensina RTP).

A sua atividade literária foi marcada por uma grande versatilidade – foi poeta, ficcionista, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora e guionista. Mas, curiosamente, iniciou a sua obra com o romance infantil Aventuras de um Pequeno Herói, em 1945.

Foi igualmente coordenadora da Editora Arcádia, uma das principais editoras portuguesas à época, jornalista no Rádio Clube Português e colaboradora do jornal Sol. Organizou ainda diversas antologias de poesia portuguesa como Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses (1970) ou Antologia da Poesia do Período Barroco (1982).

Durante as décadas de 1950 e 1960, a sua casa era palco de uma das mais vibrantes tertúlias de Lisboa, que reunia a elite intelectual e política (da oposição) da época. A partir de 1971, essas reuniões passaram a ter lugar no bar Botequim, que fundou com Isabel Meireles, Júlia Marenha e Helena Roseta.

Participou ativamente nos movimentos de Oposição ao Estado Novo, tendo a sua combatividade resultado na apreensão de vários dos seus livros. Foi, ainda, condenada à prisão, com pena suspensa, em 1966, pela Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, considerada ofensiva dos costumes pelo seu carácter “pornográfico” e processada no âmbito do célebre processo das “Três Marias”, por ser a responsável editorial das Novas Cartas Portuguesas de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta.

Após o 25 de Abril foi deputada na Assembleia da República, tendo protagonizado célebres e polémicas intervenções parlamentares.

A sua vida foi marcada pelo ativismo político, mas também pela luta pelos direitos humanos e das mulheres e pela defesa do património e da cultura.

Natália Correia recebeu, em 1991, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro Sonetos Românticos (1990).

Foi uma mulher lindíssima, dotada de um invulgar talento oratório e declamador, carismática, que se notabilizou por uma extensa obra literária de valor, que está, aliás, traduzida em várias línguas.

Deixou-nos a obra mas também, como legado e património, a liberdade sem freios, nem grilhões como ela deve ser.

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