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#poesiaarteemportugues: Alexandre O’Neill

Aproxima-se o Dia Internacional da Poesia e não queremos deixar de o comemorar consigo.

Ao longo das próximas semanas venha connosco num roteiro pela poesia portuguesa e por alguns dos seus maiores poetas.

Deixemo-nos encantar por este nosso património inconfundível.

Com o hashtag #poesiaarteemportugues vamos partilhar poemas escolhidos pelos nossos colaboradores. Tague também os seus poemas preferidos.

POEMA III

“Amigo” de Alexandre O’Neill

Selecionado por Patrícia Barata

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!

«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

in “No Reino da Dinamarca”, 1958
Alexandre O’Neill (1924-1986)

Pertence a Alexandre O’Neill uma das mais sublimes (e inexploradas) obras poéticas portuguesas do séc. XX. A sua obra ficou marcada pela sua habilidade (sem vaidade) no uso da palavra e da língua portuguesa, enriquecidas pela ironia, provocação e sentido de humor singulares do poeta, mas também pela sua ternura e pela procura (e exercício) da liberdade. Aliás, a liberdade em O’Neill – homem e obra – é matriz identitária, no sentido da libertação total do homem e da libertação total da arte de todos os grilhões que os condicionem.

Foi um dos fundadores do Movimento Surrealista de Lisboa, em 1947, com Mário Cesariny, António Pedro, Marcelino Vespeira e José-Augusto França, mas desvinculou-se do grupo a partir de “Tempo de Fantasmas”, publicado em 1951. Porém, só a partir de 1958, com a edição de “No Reino da Dinamarca” obteve reconhecimento.

Opositor do Estado Novo foi preso várias vezes pela PIDE. Foi, ainda, uma voz crítica da sociedade portuguesa e do País: “Sem pieguice digo-lhe que sempre sofri Portugal, tanto no sentido de não o suportar (como todos nós, aliás), como no sentido de o amar-sem-esperança”, disse ao jornalista Fernando Assis Pacheco, em 1982. Emana daqui a exigência crítica perante um país fechado e pobre, mas também um grande afeto.

A sua obra inclui poesia, prosa, gravação de discos, guiões de cinema e teatro, traduções, antologias de outros poetas e publicidade. É da sua autoria o famoso slogan: “Há mar e mar há ir e voltar”.

Alguns dos seus mais célebres poemas são: “Um adeus português”; “Gaivota” (letra para fado), “Há palavras que nos beijam”, “Portugal”, “O poema pouco original do medo” e “O beijo”.

Viveu intensamente talvez para escapar a essa “invenção atroz a que se chama o dia-a-dia”.

LEIA AQUI O PRIMEIRO POEMA DESTA SÉRIE

LEIA AQUI O SEGUNDO POEMA DESTA SÉRIE

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