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Orgulho em ser tripeira

“As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos impossíveis. Têm o ar de quem pertence a si própria. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito. São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer.”

Miguel Esteves Cardoso

Só quando saí de Portugal, para viver no estrangeiro, é que aprendi que sou lusodescendente porque sou sul-africana de pais portugueses.

Nunca me considerei assim, porque a minha cidade do Porto me acolheu, desde bem pequenina, como se fosse sua. E eu aceitei, sou tripeira de corpo e alma, com muito orgulho!

Orgulho-me muito das gentes da invicta, são pessoas com garra, são pessoas que não desistem nas dificuldades, são pessoas criativas, são pessoas hospitaleiras, que têm a sua personalidade bem fincada e não admitem que ninguém a mude. Mas o principal e o mais importante, é que apesar da cidade do Porto ser escura e cinzenta devido aos antigos monumentos, as pessoas enchem a cidade de alegria num ritmo frenético de movimento rotineiro.

Hoje, vou vos contar a história das tripas à moda do Porto, um dos pratos que apelidou os portuenses de tripeiros.

No ano de 1415, no estaleiro de Lordelo do Ouro, construíram-se muitas das embarcações que saíram com destino a Ceuta, para iniciar o homérico historial de acontecimentos dos Descobrimentos Portugueses.

Atendendo ao pedido feito pelo Navegador Infante D. Henrique, os habitantes da invicta abasteceram os navios com tudo o que tinham na cidade, incluindo toda a carne limpa para que os navegadores não passassem fome na sua viagem até à costa africana.

O que restou para o povo foram as vísceras dos animais, ou seja, as tripas. Com a fome a bater à porta, começaram a cozinhar essas tripas, e a comer com pão escuro. Ao longo dos anos, a receita foi sendo aperfeiçoada, e hoje temos as tripas à moda do Porto. Num aromático prato de guisado, foi-se juntando às tripas o feijão branco e a cenoura, completando com arroz branco.

Há 600 anos, que este pitéu faz as delicias das gentes do Porto, e as delícias de quem vem de fora e ganha “tomates” para o degustar.

Ingredientes:

1 kg de tripas de vitela
1 mão de vitela ;
150 g de chouriça de carne ;
150 g de orelheira ;
150 g de toucinho entremeado ou presunto ;
150 g de salpicão ;
150 g de carne de cabeça de porco ;
1 frango ou meia galinha ;
1 kg de feijão branco manteiga ;
2 cenouras ;
2 cebolas grandes ;
1 colher de sopa de banha ;
1 ramo de salsa ;
1 folha de louro ;
sal e pimenta

Confeção:

Lavam-se as tripas muito bem e esfregam-se com sal e limão. Cozem-se em água e sal. Limpa-se a mão de vitela e coze-se.

Noutra panela cozem-se as restantes carnes e o frango. Estas carnes tiram-se à medida que vão cozendo.
Coze-se o feijão já demolhado com as cenouras e uma cebola aos gomos.

Pica-se uma cebola e faz-se estrugir com uma colher de banha. Juntam-se todas as carnes, cortadas em bocados (incluindo as tripas, o frango, enchidos, etc. ). Deixa-se apurar um pouco e introduz-se o feijão.

Tempera-se com sal, pimenta preta moída na altura, o louro e a salsa. Deixa-se apurar bem.

Retira-se a salsa e serve-se em uma terrina de barro ou louça, polvilhados com cominhos, salsa fresca picada, acompanhado com arroz branco seco.

Dévora Cortinhal

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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