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“O Rouxinol” de Kristin Hannah

Ficha técnica

Título – O rouxinol

Autora – Kristin Hannah

Editora – Bertrand Editora

Páginas – 504

Opinião

As expectativas eram muito altas. Há quase um ano que esta obra morava na prateleira dos livros não lidos e há quase um ano que me pedia encarecidamente que a lesse. Mas nisto das leituras sou um bocadinho masoquista (como todos já devem saber) e, como tal, não cedi ao desejo de pegar-lhe antes que chegasse a sua vez. Entretanto, fui aconselhando-a a várias pessoas, tal era a minha confiança de que a sua narrativa, a sua contextualização histórica e as suas personagens não defraudariam. E não defraudaram. Nem as minhas expectativas nem as de quem embarcou na sua leitura primeiro do que eu.

A narrativa de O Rouxinol está bipartida. Inicia em 1995, nos Estados Unidos e narrada na primeira pessoa. No seu segundo capítulo recuamos ao ano de 1939, aos dias que antecedem o começo da segunda Grande Guerra, e conhecemos Vianne, uma jovem mulher francesa, que vive na aldeia de Carriveau na companhia do marido e da filha. A partir daqui viajaremos entre os dois lados do oceano, saltaremos do final do século XX para os seis anos hediondos que arrasaram a superfície de inúmeros países e as vidas de milhões de seres humanos, seguiremos de muito perto, como se fôssemos as suas sombras, os passos de duas irmãs, de Vianne e de Isabelle, e constataremos, uma vez mais, que as guerras não são apenas combatidas pelos homens.

Vianne e Isabelle são órfãs de mãe. E também poderemos dizer que são órfãs de pai, pois Julien Rossignol perdeu a alma e a vontade de viver nas trincheiras da Primeira Grande Guerra e regressou das mesmas oco de sentimentos e destroçado por dentro. As duas irmãs viram-se assim entregues a elas próprias, afundadas na dor de perder os dois progenitores praticamente ao mesmo tempo e sem saberem como lidar com isso. Vianne, a mais velha, não foi capaz de amparar e cuidar da pequenita Isabelle e um fosso foi crescendo entre as duas. Rapidamente se separaram e enquanto Vianne engravidou e casou muito novinha, Isabelle foi sendo escorraçada de colégio em colégio devido ao seu carácter tumultuoso e a uma vontade feroz de não depender nem obedecer a ninguém.

Quando a guerra começa, as duas irmãs possuem visões e vontades opostas. Enquanto Vianne tenta a todo o custo manter a sua casa, sobreviver e fazer o possível para que não falte nada à sua filhota, Isabelle dá asas ao seu lado impetuoso e procura, de forma quase descarada, lutar contra o inimigo e ajudar a que a França não se verga ainda mais. Teremos assim o mote lançado para acompanharmos as duas irmãs ao longo dos anos da ocupação nazi e, como é óbvio, entranharmo-nos numa narrativa apaixonante, sofredora, dorida e emotiva, como são todas as narrativas bem estruturadas, bem escritas e que se debruçam sobre um conflito que tem tanto de horrendo como de entusiasmante para aqueles que, como eu, não se cansam de saber mais, de ler mais sobre essa época.

O Rouxinol é uma obra que, como facilmente se depreende, nos oferece um lado da guerra que não é muitas vezes explorado. O lado feminino, das mulheres que se vêm sem os maridos, os namorados, os irmãos, os pais e que sobrevivem. Sobrevivem tendo que conviver muitas vezes de forma íntima com o inimigo que se apropria das suas casas, sobrevivem passando horas intermináveis em filas em busca de algo para comer, sobrevivem escondendo as suas angústias e medos para que os filhos não sofram ainda mais, sobrevivem ultrapassando esses medos e pondo as suas vidas em perigo apenas para ajudar quem ainda está em piores situações. São heroínas anónimas, mas são heroínas que nos conquistam o coração, como Vianne conquistou o meu. É certo que Isabelle é mais temerária, ajudou o seu país de forma mais concreta que a sua irmã, porém Vianne é mãe, é uma mulher como qualquer uma de nós, que sabe que ações grandiosas e arriscadas podem pôr em perigo a segurança e a vida da sua filha e que, por isso, prefere salvaguardar o que é seu, com sensatez e bom senso.

As duas irmãs são personagens fascinantes e estão rodeadas de outras que contribuem para que a obra seja também ela fascinante. A época que ocupa grande parte da sua trama, a cuidada contextualização, os acontecimentos dolorosos que afetam a vida das irmãs e dos seus entes queridos, a veracidade que os habita mesmo sendo uma obra ficcionada e um epílogo pungente (fez-me derramar inúmeras lágrimas) que finalmente desvela o elo entre o presente e o passado são motivos mais do que suficientes para que eu tenha adorado a companhia que O Rouxinol me fez durante a última semana de outubro e para recomendar vivamente a sua leitura. Tenho apenas que dizer que não lhe atribuo a nota máxima por causa do seu início, sobretudo porque considero que a caracterização de Isabelle, bem como as suas atitudes, são algo exageradas. Pareceu-me que a autora “esticou a corda” ao vincar tanto a sua petulância, a sua imaturidade, a sua impulsividade, o que não era de todo necessário.

Agora resta-me estar atenta a outras obras da autora, porque se forem tão boas como esta, têm que ser de leitura obrigatória! Se conhecerem outros títulos seus que sejam suculentos como O Rouxinol, deixem-nos nos comentários. Eu agradeço!

NOTA – 09/10

Sinopse

O Rouxinol narra a história de duas irmãs separadas pelos anos e pela experiência, pelos ideais, pela paixão e pelas circunstâncias, cada uma seguindo o seu próprio caminho arriscado em busca da sobrevivência, do amor e da liberdade numa França ocupada pelos alemães e arrasada pela guerra. Um romance muito belo e comovente que celebra a resistência do espírito humano e em particular no feminino. Um romance de uma vida, para todos.

in O sabor dos meus livros

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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