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O que está a Europa a fazer pela Cultura?

Uma pergunta que esconde aquilo que menos se vê: o que nos une como povo e o que nos liga a outros povos. É isso a Cultura. Das centenas de (in)definições de Cultura a mais óbvia é aquela que raramente se mostra, isto é, a Cultura como complexidade humana. Ela envolve conhecimento, crenças e fé, lei, moral e costumes e mesmo quando ela, em circuitos espirituais mais fechados, não quer significar nada isso é já dar-lhe um sentido.

Faço questão de escrever Cultura com letra maiúscula porque ela representa a genialidade humana que, muitas vezes, se transfigura em democraticidade social. Ela é, também, a compreensão de um mundo que apreende a convergência das estruturas económica e educativa europeias.

Muitas vezes a Cultura que é oferecida depende das necessidades económicas e mercantis num mundo, globalizado e competitivo, de oferta e de procura, por vezes, agressiva que obscurece os fins da própria Cultura. Isto leva-nos à questão de saber até onde estão garantidos os princípios críticos a que todo e qualquer ser humano deve receber para ser capaz de discernir relações e contradições.

É que ser “crítico significa ser capaz de fazer distinções”. Aquilo a que chamamos de Cultura elitista também deverá ser entendido como “assumir responsabilidade pelo ‘melhor’ do espírito humano, (…) responsabilidade pelo conhecimento e preservação das ideias e dos valores importantes, pelos clássicos, pelo significado das palavras, pela nobreza do nosso espírito. Ser elitista, como explicou Goethe, significa ser respeitador: respeitador do divino, da natureza, dos nossos congéneres seres humanos, e, assim, da nossa própria dignidade humana” (STEINER, G., A Ideia de Europa, p. 17).

É por essa dignidade que compreendemos que o acesso à Cultura e às oportunidades de expressão criativa são importantes para a constituição de uma sociedade democrática assente na liberdade de pensamento, de expressão e na igualdade, cujo impacto é claro no desenvolvimento entre as comunidades europeias e transeuropeias.

Por ela, Cultura, podemos participar cada um como um todo numa sociedade inclusiva. Só esta participação é capaz de criar em nós o sentimento de pertença. Aquilo a que Leyens chamava de afiliação. Aqueles que são marginalizados pelo desemprego, pela doença ou por outra causa qualquer são os que mais precisam da oportunidade de participar na vida cultural da sua região, do seu país e da própria Europa. É nesta comunhão e vivência que preenchemos a história. A nossa história nesta União.

O sector cultural europeu emprega cerca de 8.4 milhões de pessoas. Ou seja, representa 3.7% do total do emprego. Não há dúvidas sobre o seu potencial em termos de desenvolvimento económico. Mas isto exige um acompanhamento sistemático das medidas concretas propostas pelos Estados-membros, de forma a garantir não só o desenvolvimento económico do sector, mas também para a integração de todos, com medidas excepcionais para aqueles que têm necessidades especiais. Uma forma eficaz de crescimento cultural é a criação, neste mundo digital, de plataformas que permitam a partilha e troca de experiências.

A percentagem de participação em actividades culturais ainda é desigual entre os Estados-membros porque são dependentes das diferentes condições socioeconómicas das suas regiões e, por consequência, dos seus cidadãos. Isto é, a participação na maioria das actividades culturais aumenta proporcionalmente com o aumento do rendimento e do nível de educação. Essa diferença na participação em actividades culturais tenderá a manter-se ou a agravar-se com a crescente disparidade de rendimentos e, por isso mesmo, deve ser assegurado o acesso a eventos culturais a crianças e jovens pertencentes a famílias de todos os extractos sociais. Note-se que os primeiros níveis de ensino são fundamentais na sensibilização das crianças à Cultura e que os Estados-membros devem assegurar que elas tenham acesso a experiências culturais de qualidade, independentemente do seu contexto sociocultural e económico. Isto implica a coragem política de descentralizar geograficamente o investimento feito na Cultura e de apostar na mobilidade cultural.

A mobilidade dos artistas europeus e de países terceiros é uma forma de promoção da paz, da partilha de visões e da desconstrução de representações sociais e culturais estereotipadas e quem não investe na Cultura é porque não sabe de que é feito este mundo. É verdade que há “negócios” mais rentáveis que a Cultura. Mas também é verdade que raramente se mata pela verdadeira Cultura. Aquela Cultura, que como eu disse no início deste texto, nos une como povo e o que nos liga a outros povos. O que está a Europa a fazer pela Cultura? A tentar garantir a paz. Uma palavra de apreço a todos os cidadãos espalhados por este mundo e que são os primeiros embaixadores da paz e da Cultura.

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