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O “novo normal” deve ser a Dignidade

Desde miúdo sempre gostei dos sorrisos mais largos, das conversas mais animadas, dos abraços mais apertados e, sobretudo, das mãos mais abertas. Estas últimas eram uma espécie de poesia física de convite à partilha.

Agora, mais do que nunca, queria que refletíssemos sobre esta poesia. Quando vemos mãos abertas – genuinamente abertas – podem significar dar ou receber; dar a mão para ajudar ou esperar que outra mão ajude. E é isto mesmo que é necessário agora: que sejamos mãos amigas.

O confinamento e retorno à “nova normalidade” são difíceis, o bem-estar individual e social parece estar abalado e confuso num misto entre desgaste vs. inovação, aceitação vs. negação; noção de solidariedade vs. proteção pelo individualismo; abertura vs. fecho.

No meio disto tudo estamos nós: pessoas (filhos, pais/ mães, avós, netos, trabalhadores, estudantes, utentes) a tentar gerir ansiedade pessoal, de crianças, idosos, colegas, amigos e até do que devemos aceitar como práticas no “novo normal”: precisamente onde podemos fazer a diferença como seres humanos.

Espero que não se aceite a anomia social como norma, o pensar-se que “não foi em minha casa, está tudo bem”. Na verdade, tudo foi em nossa casa – a humanidade.

Muitas pessoas perderam a vida, lutaram e lutam pela saúde, muitas pelos empregos e rendimentos para viver, muitas para gerir a incerteza que é ainda mais aguda. Na impossibilidade de enumerar todas: por condições humanas que foram adiadas, como se o Direito ao bem-estar e segurança fosse uma opção: que não é.

Assim, o novo normal que sinto que faz sentido (dado que o conceito de “normal” é subjetivo e não óbvio), deve ser a solidariedade. Atenção, não é apenas caridade ou pena, é mesmo solidariedade com todas as letras. Todos temos competências técnicas, humanas e sociais e podemos usá-las de forma a promover o bem-estar e comunicação.

Como? Simples: basta que tenhamos espaço nos ouvidos e coração para ouvir as necessidades do outro (e as nossas). Se podes ajudar, fá-lo. Se precisas de ajuda, procura agora.

Não temos de estar nos pontos extremos de cuidadores ou cuidados, podemos antes estar num continuum em que participamos como ambos. Por exemplo: “posso ajudar a cozinhar, mas não posso ajudar a comprar todos os ingredientes”. Ok, pode acontecer e temos o dever de promover a equidade, dentro e fora do nosso círculo mais pequeno. Agora.

O “novo normal” relembrou-nos algo que parecia esquecido: tudo é para agora, mas permanece eterna a dignidade como força maior, suportada pela solidariedade e cooperação entre todos.

A dignidade que damos quer à nossa experiência pessoal, quer a quem vive fora da nossa pele é não só o ponto de viragem para uma nova socialização, como a principal forma de combater os efeitos sociais do covid.

Agora, vamos abrir as mãos, sem apontar, apenas para cooperar.

 

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