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Mensagem de apreço e carinho às bravas gentes do interior de Portugal

O interior de Portugal volta com uma certa periodicidade à ribalta nos media nacionais, particularmente quando há eleições. O tema infelizmente não passa daí. Muita da fauna medíocre e incompetente que pulula no Terreiro do Paço (e a quem nós demos o nosso voto, é bom lembrar…) gosta de se lembrar do desenvolvimento do interior sempre que precisa do voto dessas bravas gentes para ganhar uma eleição autárquica ou legislativa, para logo esquecer as promessas por mais 4 anos, logo no dia seguinte ao acto eleitoral.

O curioso é que até mesmo os filhos diletos dessas terras fantásticas do interior algarvio, beirão, duriense, transmontano, etc., terras de gentes trabalhadoras, honestas e amigas, rapidamente se esquecem das promessas que fizeram aos votantes durante a campanha.

O caso mais paradigmático de um cidadão do interior que renegou as suas origens, em vez de delas se orgulhar, e fazer tudo para ajudar as suas gentes, é o do inenarrável e nefasto Sócrates. Esse beirão preocupou-se com o desenvolvimento de todo o tipo de negociatas que o beneficiassem a ele e à “entourage” de familiares e generosos amigos, aqueles que segundo ele lhe “emprestadaram” milhões de euros, mas, mal saiu da Covilhã para a capital, rapidamente se esqueceu das suas origens, e das suas gentes. Deixou como legado à sua região os maiores abortos urbanísticos na cidade da Covilhã, desenhados por ele enquanto trabalhou como engenheiro na Câmara Municipal.

As legislaturas vão passando, Governo entra, Governo sai, e nada acontece realmente de planeado, sistematizado, bem pensado para ajudar a desenvolver o interior do país, para atrair gente jovem, que queira residir e criar os filhos no interior, para apoiar a criação de empresas, enfim, para impedir aquilo que parece inevitável, a desertificação inexorável do interior, e o êxodo populacional massivo para a faixa costeira (ou para a emigração), com tudo o que isso acarreta em termos de círculo vicioso de destruição de infraestruturas. Se não há emprego, não há famílias, se não há famílias, não há crianças, e portanto não se precisam de centros de saúde e hospitais, se não há crianças, não é preciso escolas… etc., etc.

O interior do país estará mesmo condenado a esta triste sina ? Só mesmo se os cidadãos residentes no interior deixarem cair os braços, inclinarem a cabeça para o chão, e assim o quiserem…

Se continuarem à espera que os muitos medíocres e ineptos (exceções confirmam a esmagadora regra) que pululam pelos Passos Perdidos da Assembleia da República, e os que circulam nos corredores do poder do Governo de turno, façam alguma coisa de palpável, podem esperar sentados!

Dá exatamente igual qual o partido ou a coligação de partidos que está no poder, são (quase) todos iguais, como aí no interior certamente já terão notado, pois seja qual for a sigla partidária que está no poleiro, nem uns nem outros abraçaram alguma vez esta causa com determinação e vontade de fazer, e construíram algo de positivo por vocês, bravas gentes do interior… Há obviamente uns que são mais responsáveis do que outros. Nos últimos 26 anos, desde o consulado do indeciso e pantanoso António Guterres, que começou em 1995, o PS foi Governo durante 19 anos, e o PSD em apenas 7, se a memória não me atraiçoa…

Portanto, a minha sugestão é que os empresários do interior façam como os nossos bravos empresários portugueses da diáspora, que não contam com o Estado do país em que vivem e trabalham para ter êxito. A umbilical e doentia dependência de algum empresariado português ao Estado é coisa de ditaduras (China, Coreia, etc.) e dos países latinos, como Portugal, país que continua mais salazarista nas questões do favor, do pequeno poder, e da cunha, do que muitos pensam.

Infelizmente e aparentemente só se perpetuou o que o salazarismo teve de negativo. A censura lapidar a todos aqueles que discordem da opinião mainstream da “geringonça”, totalmente dominada pela esquerda radical, voltou à ribalta. Já de um ou outro aspeto positivo de Salazar, como nunca ter roubado dinheiros públicos, o que foi elogiado pelo próprio Mário Soares numa conferência pública na Fundação Calouste Gulbenkian, ninguém fala (ou copia)….

Estou bem longe de ser salazarista, até porque o meu pai foi vítima do sistema, por delito de opinião. A “arma” dele era a pluma com que escrevia o programa de rádio na Emissora Nacional, que ele próprio fazia on-line, o „Tudo isto é Vida“, e que sucumbiu à censura salazarista. Mas Salazar, como disse Mário Soares, morreu pobre, sempre geriu as Finanças Públicas criteriosamente. Hoje em dia é um fartar vilanagem, a famosa porca do imortal Raphael Bordallo Pinheiro já não tem mais tetas onde possam mamar (gamar) todos os que se aproveitam do Orçamento de Estado em beneficio pessoal, de familiares ou amigos generosos.

A minha recomendação aos cidadãos do interior de Portugal é pois que façam de conta que a sua região é a África do Sul, a Venezuela, o Brasil, a França, a Alemanha (países para onde emigraram os nosso compatriotas, e onde nasceram grandes empresários da diáspora), e tomem vocês a vossa vida, o vosso destino, o vosso êxito nas vossas próprias mãos!

Não fiquem à espera que os bacocos da centralista Lisboa cumpram promessas ocas e não sentidas, pois passarão novamente as décadas sem que nada de bom aconteça para o vosso desenvolvimento. Vejam por exemplo quanto da famosa bazuca foi destinada a apostar no desenvolvimento do interior… Li na transversal as tediosas 140 páginas do documento inicial, que mais pareciam um romance de mau gosto, e até poderei ter lido mal, mas não descortinei nem uma linha escrita a falar de apoiar o interior, só obras faraónicas controladas a partir do Terreiro do Paço ! A última versão , que ainda não tive oportunidade de rever, corrige aparentemente a lacuna.

A pandemia do covid-19 veio talvez dar-vos uma ajuda maior do que qualquer Governo até hoje fez pelo interior. O desejo de muitas famílias em fugir da vida estressante das grandes cidades tem levado a que muitos repensem as suas vidas, peguem nas poupanças, e invistam em projetos agrícolas nas terras que herdaram da família, esquecidas e abandonadas há décadas, ou restaurem casas e levem as famílias para o interior !

Estrangeiros também olham para o interior de Portugal como o refúgio pacífico, tranquilo, pouco exposto aos efeitos de pandemias, que os seus países da Europa Central não garantem. Vamos lendo esporadicamente que há comunidades de estrangeiros a formar-se no interior, onde lindas criancinhas loiras nascem, vão criando raízes, frequentam a escola, e podem significar a geração que irá alterar este terrível imobilismo que muitas vezes nos domina e paralisa.

Qual seria pois a minha recomendação, para começar já a planear o futuro, e não quando a economia mundial disparar em 2022, no pós-covid-19…

1) As Câmaras Municipais, em vez de investirem em equipamentos idiotas que depois ficam abandonados por falta de utilizadores que financiem a manutenção, deveriam investir numa função de Marketing que lhes desenhe planos estratégicos para enaltecer e divulgar as riquezas da região, e depois ajudar a definir as prioridades de investimento que ajudem a reforçar os pontos fortes. Em vez disso, no passado tem-se investido em rotundas (Viseu !) e equipamentos públicos que só custam dinheiro. Não tanto o fazer, muitas vezes amplamente co-financiado a fundo perdido pela UE, mas a manutenção, que põe os orçamentos locais sob pressão, o que faz com que acabem por ser abandonados. Há sítios no país onde, exagerando, cada freguesia quer ter o seu poli-desportivo, piscina municipal, etc. Muitas vezes estes equipamentos distam uns poucos quilómetros de outros exatamente iguais, e estão todos abandonados, pois frequentemente são construídos em freguesias onde não há jovens, só idosos, que cresceram sem que lhes fossem criados hábitos de actividade física regular. Acabem com isso ! Apoiem atividades agrícolas e empresariais que ajudem a potenciar o emprego na região, e criem riqueza !

2) A agricultura e a pecuária não são atividades de que nos devamos envergonhar, antes pelo contrário. Para além das culturas tradicionais e sazonais (castanha, pêssegos, maçãs, medronho, cerejas, laranjas, etc. ), o interior tem condições plenas para produzir hortícolas e frutas fora de temporada, que atingem preços elevados nos mercados centrais da Europa, onde estão os consumidores endinheirados. O interior tem hoje excelentes ligações a redes de auto-estradas que levam diretamente a esses mercados, permitindo colocar os produtos a um custo aceitável, pelo que o produto nacional pode chegar a Madrid, Paris, Berlim ou Londres a preços competitivos. O que é preciso ? Atrair jovens agricultores, mostrando-lhes as vantagens de uma vida familiar e profissional no interior. Pôr as centenas de milhar de hectares de terras abandonadas (uma vergonha) a trabalhar. Se preciso for, atrair cidadãos de outros países que procurem viver em paz, e que sejam peritos na agricultura racional, como os israelitas, e alugar-lhes barato terras abandonadas para cultivo. Há cada vez mais escassez de alimentos no mundo. Portugal importa alimentos (uvas do Chile e da África do Sul!) que poderia perfeitamente produzir, ficando praticamente auto-suficiente. Criem-se condições para que as terras abandonadas se transformem em terras produtivas! Façamos como os espanhóis, que são exímios a criar regiões demarcadas de produtos de qualidade, e os promovem interna e externamente, o que lhes permite vendê-los mais caro que os “sem marca”. Alguns exemplos, grão-de-bico de Fuentesauco, feijoca branca de Astúrias, lentilhas de la Armunha, etc. Eu trabalhei em Espanha há 40 anos, e já nessa altura os meus colegas de trabalho estavam conscientes, enquanto consumidores, da qualidade deste ou daquele produto agrícola, e chamavam-no pelo nome de origem. Pensem como fazê-lo, como implementá-lo, mas façam-no! As terras são vossas, não do Governo do Terreiro do Paço. Criem riqueza com os imensos recursos naturais que têm!

3) Ouvi falar recentemente que os “nómadas digitais”, pessoas de várias nacionalidades cujo trabalho é efetuado a partir de casa, precisando apenas para ter êxito de um computador topo de gama, e de internet de alta velocidade, estavam lentamente a criar uma comunidade na Ponta do Sol na ilha da Madeira… Asiáticos, australianos, etc. encontraram o seu cantinho na Ponta do Sol e, enquanto os tratarem bem, e gostarem daquilo que a região lhes oferece, assentam arraiais. No dia em que estão aborrecidos, só precisam de fechar o laptop e levar a meia dúzia de trapos que cabem numa mochila (daí o ser nómadas), e mudam de poiso. Esta gente ganha bem, consome, cria empregos. O interior já tem empresas tecnológicas (Fundão) e call centers topo de gama (Covilhã), mas olhando para aquilo que essas cidades oferecem em termos de amenidades e distrações para a população maioritariamente jovem que nelas trabalha, fica-se com a dúvida por quanto tempo aguentarão o talento a trabalhar e a viver aí. Fale-se com essa gente, pergunte-se o que os move, invista-se na criação de polos de interesse para os atrair, e devagarinho pode ser que no interior de Portugal possa nascer um “Silicon Valley” beirão. Mas sem estudo de marketing apropriado, sem investimento, sem ação, sem suor, ficará tudo igual. E a culpa não é do Governo, é dos responsáveis locais que não souberam ou quiseram tomar o assunto do desenvolvimento da região nas suas mãos. Olhem para Oeiras e vejam como a determinação, visão e criatividade de um autarca controverso (hoje independente), alteraram o perfil do concelho envelhecido, atraindo famílias jovens. E olhem para o Porto, onde outro autarca, também controverso, e também independente, transformou a cidade do Porto, cujo centro histórico ainda há poucos anos parecia as ruínas da cidade de Alepo na Síria, numa das cidades mais “quentes”, desejadas e visitadas como destino turístico de topo na Europa. Até parece que só os autarcas independentes se comprometem com as populações locais, e os autarcas de partido (com umas poucas exceções, como Vila Nova de Gaia, onde um fantástico autarca do PS tem demonstrado à saciedade que é possível equilibrar contas autárquicas, diminuir impostos, taxas e taxinhas municipais, e investir na comunidade !) se enredam nas teias e obediências partidárias de tal ordem, que não conseguem comprometer-se lealmente com as suas regiões e populações.

Resumindo, a transformação das nossas vidas não está nas mãos de terceiros, muito menos de políticos distantes, não comprometidos com as populações locais do interior, apenas com o caminho tortuoso, muitas vezes mentiroso, para chegar à próxima eleição e ganhar.

Aprendam e atuem!

José António de Sousa

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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