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França: deputado lusodescendente critica impostos em Portugal

O único deputado luso-descendente na Comissão dos Assuntos Europeus no parlamento francês, Ludovic Mendes, defende que Portugal não deve “fazer concessões” nos impostos para evitar um ‘apartheid’ entre estrangeiros ricos e os portugueses.

O deputado considera que, ao contrário dos populistas, que querem fazer da imigração e da segurança das fronteiras a prioridade para estas eleições europeias, é mais importante “uma Europa mais solidária, que evita a evasão fiscal, uma Europa mais social e que permita uniformizar as leis em relação às empresas para permitir cooperação entre elas”, assim como o fim da guerra concorrencial entre Estados-membros.

Conhecido como o ‘El Dorado’ em França, Mendes não acha que Portugal seja um paraíso fiscal dando regimes especiais de impostos para os estrangeiros que se queiram instalar no país, mas teme pelo futuro dos portugueses.

“Eu tenho defendido que as pessoas não se instalam em Portugal por causa dos impostos, mas sim porque vivem bem. Claro que Portugal tem de elevar também os seus padrões fiscais e não fazer concessões, porque os portugueses também saem prejudicados com algumas medidas. […] Quando se faz este tipo de escolhas, é importante não criar um ‘apartheid’ entre os ricos que vêm do estrangeiro e os portugueses que trabalham todos os dias”, disse o deputado luso-descendente, em entrevista à Agência Lusa.

Ludovic Mendes tem 32 anos e foi eleito nas listas do partido Republique En Marche, de Emmanuel Macron, sendo a primeira vez que tem responsabilidades políticas a nível nacional. Antes de ter entrado para este movimento que levou o Presidente para o Eliseu, o ex-empresário lusodescendente já tinha passado pelo partido socialista na sua região e, entre amigos, era conhecido como “o pequeno Macron”.

“Mesmo antes do movimento, já me chamavam o Pequeno Macron, porque partilho muitos pontos políticos com ele. Sempre que ele fala da liberdade, da tolerância religiosa ou da parte social. Até ele, eu achava que os políticos estavam demasiado de um lado ou de outro. Entrei no movimento duas semanas depois de ele ter sido formado e fizemos uma bela campanha na minha região”, contou Ludovic Mendes.

No entanto, tal como outros colegas do En Marche que entraram pela primeira vez na Assembleia Nacional, afirma nunca ter pensado ser deputado. “Venho de um bairro social, os meus pais trabalharam muito para sairmos de lá e conhecemos dificuldades”, relatou.

“Quando comecei o meu mandato ainda me questionei, porque eu não sou um tecnocrata nem andei uma grande universidade. Mas eu trago outra coisa para a Assembleia Nacional, eu represento o francês médio. Para uma parte da classe política, posso ser visto como um erro de percurso, mas para outros represento uma história de sucesso. Tenho uma responsabilidade especial, quando entrei na Assembleia Nacional senti um peso nos meus ombros e nunca faço promessas”, declarou.

Envolvido desde o primeiro momento nos temas europeus na Assembleia Nacional, Ludovic Mendes considera que há falta diálogo e reflexão coletiva na União Europeia e isso afeta a participação dos cidadãos.

“Estamos a viver o falhanço dos políticos que não assumiram as suas responsabilidades quando nos disseram que a culpa era de Bruxelas. Mas Bruxelas somos nós, somos nós no Conselho, no Parlamento Europeu. O que precisamos é de diálogo e debate e hoje temos de tomar decisões rápidas, não as explicamos e não há consenso”, defendeu.

Para a próxima etapa da União Europeia, Ludovic Mendes defendeu que os parlamentos comuniquem mais uns com os outros de maneira formal.

“Devíamos fazer mais encontros e com mais substância entre parlamentares dos diferentes países, como se fez com o novo tratado do Eliseu entre a França e a Alemanha. Os grupos de amizade entre os parlamentos funcionam nalguns pontos, mas era melhor que todas as comissões de Assuntos Europeus se pudessem reunir para trabalhar formalmente em conjunto”, disse o luso-descendente que é também um dos vice-presidentes do grupo de amizade França-Portugal na Assembleia Nacional.

Com o partido de Marine Le Pen, o Rassemblement National, à frente nas sondagens das eleições de 26 de maio, o deputado não considera que uma possível derrota do seu partido seja uma derrota do Presidente. “Não será uma derrota do Presidente porque não é ele que está a concorrer. As eleições europeias parecem nacionais, mas não fazemos a diferença entre os dois. E até parece que é o Presidente que gere o país sozinho, mas não. Ele dá orientações, o Governo executa-as e o Parlamento está aqui para as aprovar ou não”, afirmou.

Nascido em França, numa região fronteiriça e com “as mais belas lembranças da infância” vividas em Portugal, Ludovic Mendes considera ser a definição de um europeu. “Ser europeu é viver em Moselle, ser filho de um pai português e de uma mãe espanhola, atravessar rapidamente a fronteira e estar na Alemanha, na Bélgica ou Luxemburgo. É algo natural para mim, sou francês, espanhol, português e europeu”, concluiu.

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