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Como alunos de Ponte da Barca pagam os estudos a crianças moçambicanas

© DR

Crónicas escritas por 30 alunos de Ponte da Barca vão ser apresentadas em livro, no dia 31, sendo a receita da venda da publicação para pagar um ano de estudos a crianças do ensino básico de Moçambique.

Ao todo são 500 exemplares do livro “Opiniões de Segunda”, que compila 30 artigos de opinião escritos ao longo do ano letivo 2018/2019 por alunos do 7.º ao 12.º da escola secundária de Ponte de Barca.

O livro integra-se no projeto “Opiniões de Segunda”, que começou com a publicação, todas as segundas-feiras, de um texto da autoria de um aluno e teve como objetivo de “promover o exercício da cidadania e o debate plural, potenciando o espírito crítico, a capacidade argumentativa e a expressão escrita de determinado ponto de vista”.

“Opiniões de Segunda” foi proposto pela associação de estudantes à direção do estabelecimento de ensino que, todos os anos, “desafia os alunos a uma participação ativa na vida da escola”.

“O objetivo era que o nosso trabalho associativo não se cingisse a um ou dois projetos ao longo do ano, mas que tivesse uma dimensão mais ativa. Daí termos criado estes artigos semanais, da autoria dos colegas, que fomos divulgando quer na escola, quer nas redes sociais”, explicou a presidente da Associação de Estudantes, Sara Arezes, de 18 anos.

A aluna do curso de ciências e tecnologia adiantou que o projeto “foi tão bem recebido e acarinhado, quer pelos alunos, quer pela comunidade”, que ganhou forma a edição de um livro que reunisse os melhores artigos.

A componente solidária surgiu em abril, com o ciclone Idai que afetou aquele país africano.

“Arranjámos um patrocinador, um empresário local que nos pagou a publicação do livro. Fizemos uma pesquisa sobre qual seria a associação que melhor nos apoiaria no projeto solidário e encontramos a Helpo, organização não-governamental (ONG) portuguesa”, explicou a estudante de Ponte da Barca.

No sítio na Internet da Helpo ficaram a saber que “com 35 euros é possível suportar os custos globais da educação, num ano letivo, dos alunos do ensino básico de Moçambique”.

“É um valor que, para nós, é perfeitamente acessível e praticável e, em Moçambique, faz a diferença”, referiu.

Sara adiantou não estar decidido o valor de venda do livro: “Estamos a pensar em 10 euros. Se vendermos 10 livros podemos custear os estudos de praticamente três crianças”, disse a aluna que está a equacionar uma licenciatura em economia.

Aluna do 12.º ano, Sara Arezes não poupou elogios aos colegas “sempre muito ativos e dinâmicos”.

“Sentimos um carinho muito grande dos alunos que gostam de escrever e sentimos a entrega que têm à causa associativa. Das várias vezes que abordei os meus colegas nunca tive um não como resposta. Ficaram sempre muito satisfeitos por ver o trabalho deles a ser divulgado, quer em contexto escolar, quer junto da comunidade local”, reforçou.

O livro “Opiniões de Segunda” vai ser publicamente apresentado no dia 31, pelas 21:30 horas, na escola secundária de Ponte da Barca.

O diretor agrupamento de escolas de Ponte da Barca, Carlos Louro, sublinhou o empenho dos alunos.

“É um livro deles. A escola apenas foi acarinhando e orientando. Tiveram toda a liberdade criativa, foram eles que selecionaram os textos. A escola não interferiu em nada, apenas apoiou”, destacou.

Acrescentou que “os textos produzidos durante o ano, foram publicados nas redes sociais da associação e da escola, partilhados através de uma rádio local, num programa de promoção da leitura e da literacia, e outros já foram até utilizados pelos próprios professores, nas aulas, face ao interesse que podiam despertar para a matéria que estava a ser dada”.

“É uma honra, um orgulho e um privilégio trabalhar com alunos com este espírito de iniciativa e de comprometimento cívico e social”, frisou.

Para o docente, além da componente social, o projeto “Opiniões de Segunda” tem o “mérito” de ter “colocado os alunos a escrever, a refletir e expressar as suas ideias”.

“É um forte contributo para a formação de cidadãos autónomos, conscientes e responsáveis na construção do seu projeto de vida e de uma sociedade mais humanista”, reforçou.

O livro inclui, entre outros, artigos de opinião do presidente da Helpo, António Perez Metelo, e do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues.

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