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A verdadeira história da estátua de Camões no Luxemburgo 

Considerando que é possível que uma boa parte dos nossos leitores nunca tenha ouvido falar de António da Silva como comendador e ilustre pioneiro do empreendorismo português no Luxemburgo desde os anos 1970 até à sua aposentação, no final da primeira década deste século XXI, decidi colmatar esta falta e escrever este pequeno resumo para dar a conhecer alguns aspetos mais marcantes da sua vida de empresário de sucesso no Luxemburgo.

António Silva foi fundador, entre outras estruturas, da APIL e da Santa Casa da Misericórdia do Luxemburgo. Homem generoso e sempre pronto para ajudar outros portugueses a ultrapassarem algum momento mais difícil da sua vida de emigrante. Razão pela qual é justo que seja dada a homenagem que merece a este homem discreto e humilde (não fosse ele português!).

É tanto mais oportuno fazê-lo quando estamos na véspera de mais uma Festa Nacional, ou Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas, efeméride que este empresário de relevo no Luxemburgo, sempre marcou com a sua presença e ajuda na comemoração digna deste dia mais especial para os portugueses, nomeadamente aqueles que tiveram de emigrar.

E é assim que graças ao apoio financeiro de António Silva e mais outros dois empresários, José Veiga e Manuel Cardoso, é oferecida em 2006 à cidade de Luxemburgo pela CCILL (1) e a Santa Casa da Misericórdia do Luxemburgo a estátua de Camões. Inaugurada em 10 de junho de 2006, o monumento a Camões veio assim colmatar uma grande falta, já que até então não havia nenhum no Luxemburgo que comemorasse a longa amizade entre os dois Povos e onde os portugueses pudessem, a cada 10 de junho, prestar homenagem à sua Pátria.

Em 2016, o dito monumento foi transferido de Bonnevoie para a Praça J. Thorn, onde ainda hoje se encontra, e bem, porque em frente às instalações do IC – Instituto Camões. 

É ali que todos os anos, desde 10 de junho de 2006, e em representação dos portugueses no Luxemburgo, o Embaixador de Portugal deposita uma coroa de flores em homenagem ao povo e à língua portuguesa, tão bem representada pelo mais ilustre homem de letras português, Camões.

Voltando a António Silva, muito haveria a escrever sobre a carreira e vida dele. O espaço deste artigo não o permite e, ademais, outros haverá que, mais conhecedores do que aconteceu ao longo de uma vida de mais de 50 anos no Luxemburgo, o farão melhor do que o autor deste epítome.

No entanto, não posso deixar de recordar o papel determinante que teve António Silva – que com a sua modéstia habitual recusará o adjetivo “determinante” – na Confederação Mundial dos Empresários das Comunidades Portuguesas (CMECP, criada em Lisboa em 1991), nome mais tarde alterado para Confederação Mundial dos Empresários Portugueses (CMEP) e, por fim, para Confederação Internacional dos Empresários Portugueses (CIEP).

Da CIEP nasce em 2016 a atual RCCP – Rede de Câmaras de Comércio Portuguesas no Mundo -, composta por 62 Câmaras de Comércio Portuguesas no Mundo e, da qual a CCILL foi fundadora e um dos quatro administradores executivos nos seus primeiros anos de existência.

Só pessoas com a visão, a qualidade e o dinamismo de António Silva poderiam acreditar, em 1991, que as empresas teriam necessidade de uma rede que os apoiasse desinteressadamente no estrangeiro, que fosse mais além do que já havia na altura. Visão que 32 anos mais tarde, se materializa na existência de 62 Câmaras de Comércio Portuguesas no mundo inteiro, que colaboram entre elas e se reúnem anualmente, este ano no Brasil e no próximo na China. O que, em si, já diz muito sobre a consideração que a RCCP tem fora de Portugal (além de ser parceiro institucional da Rede Global da Diáspora).

Antes disso, em 1979, o Comendador António da Silva, tinha criado no Luxemburgo a APIL – Associação Portuguesa dos Independentes no Luxemburgo (2). Registada em 17 de abril de 1991 sob o número RCS F-3805, a APIL foi dissolvida em 11 de junho de 2008 por duplicação de funções com a CCILL – Câmara de Comércio e Indústria Luso-Luxemburguesa, estrutura empresarial criada com o apoio de António Silva em 2003. Aproveito para sublinhar que na altura da dissolução, todo o património da APIL reverteu a favor da Santa Casa da Misericórdia de Luxemburgo.

Foi precisamente em 1 de abril de 1996 que António Silva com 98 outras pessoas, incluindo o Arcebispo de Luxemburgo, Mgr. F. Franck e o embaixador de Portugal no Luxemburgo, Dr. A. Syder Santiago, constituíram a Santa Casa de Misericórdia do Luxemburgo. Com o objetivo, de acordo com os estatutos, de “desenvolver todo o tipo de atividades destinadas a prestar assistência e caridade” às pessoas delas carenciadas dentro da comunidade portuguesa no Luxemburgo. 

Entre os objetivos traçados nesse dia a criação de um centro de apoio e de uma estrutura para a terceira idade. Algo de que muito se precisava numa época em que ainda não havia o Seguro obrigatória de dependência (Assurance Dépendance), que veio socorrer, mas só a partir de 1999, as situações mais graves existentes na sociedade.

Este artigo não estaria completo, se não fosse citado o facto de que é, de novo, por iniciativa do Comendador António Silva, junto com o Comendador Luís Barreira e, entre outras, mais duas dirigentes da Câmara de Comércio do Luxemburgo, Henry Ahlborn e Tom Theves, que nasce em janeiro de 2003 a atual CILL – Câmara de Comércio e Indústria Luso-Luxemburguesa -, para apoiar as relações comerciais entre empresas portuguesas e luxemburguesas. Fundadora da RCCP (3) e mais recentemente da FECIPE – Federação das Câmaras de Comércio Portuguesas na Europa.

E .é assim que a visão que António Silva tinha em relação ao associativismo empresarial, foi progredindo e tornando-se cada vez mais realidade. A verdade dos factos é que com a criação de estruturas como a APIL, a CMECP e a CCILL, o comércio de bens entre os Portugal e o Luxemburgo passou de 25,7 milhões de euros de exportações e 100,8 milhões euros de importações em 2003 (4) para o dobro, isto é 53,7 milhões de euros de exportações em apenas 6 anos (2009) (5) e 135 milhões de euros das mesmas exportações mais 122 milhões de euros de importações em 2022 (6). Ou seja, um aumento de, respetivamente, +425% das exportações de bens e de +20% das importações de bens nestes últimos 20 anos e centenas de ações, visitas e reuniões de negócios organizadas por ou com o apoio destas estruturas. 

E é assim que se vai dando continuação à visão e obra de António Silva. Alguém disse: “Dá-lhe flores, enquanto vive”. A vida e obra de António Silva continua viva e merece que se lhe diga: ‘Magnum opus, factum bene’, e se acrescente: Obrigado! (7)

Francis da Silva

  1. CCILL – Câmara de Comércio e Indústria Luso-Luxemburguesa 
  2. Não confundir com a APIL Sàrl, uma empresa criada em 2011, encerrada em 2015.
  3. RCCP – Rede de 62 Câmaras de Comércio Portuguesas no Exterior e FECIPE – Federação das Câmaras de Comércio Portuguesas na Europa.
  4. Fonte: Balança comercial – volume das trocas entre Portugal e o Luxemburgo. Estatísticas do Comércio Internacional 2003, INE, edição 2004, páginas 11, 12 e 22.   
  5. Fonte : Paperjam 30.04.2010, entrevista do embaixador José Manuel Pessanha Viegas: «Les relations économiques sont bonnes, évidemment, mais je dirais qu’elles ne le sont pas assez, dans le sens où il serait possible d’aller plus loin. Il est clair que les volumes des échanges commerciaux ne sont pas tellement élevés. Le Portugal exporte vers le Luxembourg surtout des vins, du poisson et des produits alimentaires. L’année dernière, cela a représenté environ 50 millions d’euros, c’est-à-dire 0,16% du total de nos exportations. Ce qui n’est pas beaucoup».
  6. Fonte : Comércio externo de Portugal, Portugal Global, INE e Banco de Portugal.
  7. Tradução: “Ótimo trabalho, bem feito”
Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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