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A influência portuguesa na reconstrução de Notre-Dame

Há milhares de exemplos sobre a influência da comunidade portuguesa em França, que a partir dos anos 60 começou a entrar no país em grandes vagas migratórias. Inicialmente a vida desses portugueses foi muito difícil, porque foram para um país com uma realidade, uma língua e uma cultura que não conheciam. Tiveram de ultrapassar imensos obstáculos e preconceitos. Viveram em condições muito difíceis em bidonvilles na periferia de Paris.

Mas os portugueses são perseverantes, são resilientes e têm uma extraordinária capacidade de adaptação. E, aos poucos foram saindo dos bidonvilles, nasceram novas gerações, a integração na sociedade foi-se fazendo. Sempre muito considerados, reconhecidos pela sua dedicação ao trabalho e por serem pessoas de confiança.  

Hoje, quando ainda a catedral de Notre-Dame está em reconstrução, um dos monumentos mais emblemáticos do mundo e um dos mais visitados por turistas, essa influência torna-se evidente pela participação de empresas, operários e artesãos portugueses, numa obra que obedece a padrões de enorme complexidade técnica e exigência de rigor, tendo envolvido mais de dois mil trabalhadores e cerca de 250 empresas. 

A catedral foi atingida por um incêndio de enormes proporções em 15 de abril de 2019, o que provocou o colapso da torre, perfurando a abóbada, e de uma parte da estrutura em madeira com séculos, que ficou carbonizada e fez derreter a estrutura de chumbo, ameaçando assim seriamente a estabilidade do icónico monumento. Reabriu dentro do prazo previsto, no passado dia 8 de dezembro.

O Vaticano considerou que a reconstrução da catedral foi uma aventura humana e tecnológica de grandes dimensões, dado o objetivo de serem replicadas as técnicas e materiais de construção original, cuja inauguração remonta ao ano de 1345. Daí que, num projeto desta natureza, faça todo sentido assinalar a participação portuguesa de empresas, técnicos, artesãos e operários, ainda para mais de uma forma que será muito evidente para todos. 

Merece destaque o facto de na catedral reconstruída ninguém poder entrar sem pisar o chão que foi colocado pela empresa Centralpose, de que é presidente o franco-português Arthur Machado, natural de Leiria, que levou para os trabalhos algumas dezenas de operários, artesãos e técnicos portugueses, entre os quais 17 calceteiros. A sua empresa já realizou obras de grandes dimensões em lugares tão emblemáticas como a Place de la Repúblique ou nos Invalides.

Foi da sua responsabilidade todo o pavimento do adro que dá acesso à catedral, onde foram colocadas cerca de dez toneladas de lajes em 5 mil metros quadrados. Cada peça foi desenhada uma a uma, num projeto concebido ao longo de seis meses por uma equipa da empresa liderada por um engenheiro português do Fundão, Carlos dos Santos, e colocadas por calceteiros também eles portugueses, dirigidos por Firmino de Jesus, de Leiria, naturalmente partilhando todos o enorme orgulho por terem participado na recuperação de uma obra tão emblemática. 

Referência também para a empresa Beetsteel, com sede em Braga, especializada na serralharia de produtos em inox, que foi a escolhida para a colocação dos passadiços corta-fogo. 

A excelência do trabalho e dos técnicos, artesãos e operários que participaram na reconstrução da catedral foi reconhecida pelo presidente francês Emmanuel Macron, e pelas autoridades eclesiásticas francesas e pelo Vaticano. “O que eles fazem é sempre extraordinário. Trabalhar com tanta precisão, com tantas técnicas diferentes para encontrar o espírito do lugar”, disse o arcebispo de Paris Laurent Ulrich.

É importante, por isso, saber-se que ninguém que visite um dos monumentos mais emblemáticos do mundo deixará de pisar o chão que os laboriosos operários, técnicos e artesãos portugueses assentaram o que, naturalmente, só pode constituir um orgulho para todos nós.

Paulo Pisco

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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