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Tenho uma emoção enorme quando oiço o silvo agoniante duma ambulância ou doutra viatura dos Bombeiros anunciando a sua emergência.

Faço tudo para lhe dar-lhe prioridade numa rotunda, se o veículo avança aflito no semáforo ou ao ultrapassar-me, ou ainda ao cruzar-se, acautelo a marcha para assegurar a emergência. É certinho que os meus olhos marejam. Um arrepio medular se me toma conta do meu corpo atormentado.

Em pequeno – pela Feira de Maio, em Felgueiras, que por mor da articulação da data calha ao derredor do meu aniversário – havia o peditório anual dos Bombeiros Voluntários de Felgueiras. Tal consistia em ostentar uma pequena raqueta com os dizeres STOP a fim de sugerir aos automobilistas que parassem. Eu estava lá estava religiosamente a ajudar.

Quando o grupo dos bombeiros ia almoçar, ficava eu com o senhor João Cachada, nas Idanhas, que morava mesmo, mesmo ao pé. Ele comia num instantinho, e servia como sinal dos bombeiros, à espera que os automóveis vindos da missa parassem e por força do senhor João ser encorpado, não sendo novo, eu corria atrás do automóvel incauto que ia parar longe.

Lembro-me de regressar com uma notinha de 500$00 – neste particular lembro mesmo: o senhor João Carvalho, lídimo proprietário de uma empresa de transportes colectivos da então vila, – no seu enorme Mercedolas preto e a gasolina! O quadro augurava montante avultado. Hoje sensivelmente dois euros e meio.

Ao tempo reinava a notinha de Santo António – 20$00. Mesmo assim as recorrentes ofertas não atingiam esse valor. 50$00 era raro. 500$00 nem Sant’António valia.

Também me lembro que um artilhado – hoje tunado – Fiat 600 de uns jovens de Lousada inabilitados a conduzir, temendo ser a GNR, entrou parede adentro junto à adega cooperativa. Havia muitos casos análogos cuja sacrossanta farda de então impunha num bombeiro.

Quando a equipa de bombeiros regressava do almoço, constatávamos que o pecúlio era superior ao da manhã, ou por fim, mesmo, de todo o dia.

À futrica eu sulcava até onde a viatura fosse parar, porque havia alguns elementos bombeiros que já não tinham a agilidade da minha meia dúzia de anos (que por esses dias, todos os anos, se me acrescentava um).

Não ia mesmo à Feira de Maio, que essencialmente se realizava junto do Mercado Municipal, no Campo da Feira ou mesmo à volta do jardim público (Praça da República). Trocava eu a comemoração do meu aniversário junto dos amigos e na festa. Neste capítulo há muitas mais particularidades, mas a memória (lembrança) também dói ou magoa. Contenha-me.

Não sei se terá daí ficado meu enlevo pelos bombeiros e pela ambivalência cuja pressa me emociona e aflige como já exarei.

Ao tempo ver uma ambulância era coisa rara, e por isso temerária, marcante e longe do que vemos hoje a todo o momento que nem damos por ela – mesmo que a acorrer ao mais perigoso acidente.

– Ainda – ao tempo, quando a Peugeot 404 – SO-61-82, conhecia pela ambulância branca ou a Peugeot 403. TO-28_73, a vermelha, assomavam, já nós, rapaziada do lugar, alertados pelo toque da sirene, esperávamos em cima das grades do muro do senhor Afonso, para tentarmos ver (e víamos!) se levava alguém dentro e para onde.

Voltando, para o hospital (HAR hoje). Se regressava, “ia para o Porto” e a coisa afigurava-se-nos grave. Se para Guimarães já não seria tanta.

A vermelha, dizíamos nós, chegava a ser preferida porque “andava mais” que a 404, mais moderna, para o Porto.

É obvio que este arrazoado vem depois de ter ouvido a ambulância silvando a emocionar-me.

(Não pratico deliberadamente o chamado Acordo Ortográfico).

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