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Revisionismo

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Em 2005, António Costa disse: “Recuso-me a aceitar os incêndios florestais como uma inevitabilidade”. Há 10 dias, o inconformismo passou a resignação. Já primeiro-ministro a frase foi: “Não tenho dúvidas de que uma situação destas irá repetir-se”. Quem assim muda, quando menos deveria, servirá de pouco, quando Portugal mais precisaria.

Os incêndios recentes significaram mais de 100 vidas perdidas, aldeias incendiadas, empresas destruídas, postos de trabalho extintos, florestas transformadas em cinzas, velhos sem forças que perderam tudo e que antes subsistiam apenas. Quando o Estado falhou tanto, a única coisa que poderia ter sido dita é que uma situação destas não se irá repetir.

Ascenso Simões, secretário de Estado desde 2005, do MAI tutelado por António Costa, considerou em 2014 um “erro grave” a aposta do Governo Sócrates no combate aos incêndios e não na prevenção. Em agosto de 2016, Capoulas Santos anunciou que “não há sistema preventivo que valha nos incêndios, daí que a maior parte do orçamento esteja alocado ao combate e não à prevenção”. Os resultados estão à vista. Mas perante a reedição do “erro grave”, Ascenso Simões calou, para acusar o CDS pela censura justificada que Assunção Cristas liderou na Assembleia da República. Bem prega Frei Tomás.

A extrema-esquerda questionou no debate: “Como pôde o Governo estar tão impreparado este ano?”. Foi só conversa. Lavando as mãos, PCP e BE mantiveram o PS no poder. Pilatos não faria melhor.

Fora do Parlamento, houve também quem relacionasse o Pinhal de Leiria, consumido pelos fogos, com a madeira dada à construção de naus que transportaram escravos no passado, numa espécie de relativismo sobre a destruição de uma das maravilhas de Portugal, apaziguador de quem insiste perpetuar complexos coloniais em 2017. Suprima-se então Negrelos e Negreiros dos nomes e da toponímia, destruam-se os portos de onde saíram as naus, incendeie-se o Terreiro do Paço, à falta do Paço da Ribeira, símbolo maior de um passado que alguns interpretam absurdamente com olhos do século XXI, arvorando-se uma superioridade moral que simplesmente não têm e a que nem o Padre António Vieira escapou.

Ver pecado racista no Padre António Vieira, descendente de uma mestiça pelo lado paterno, encarcerado pela Inquisição em 1665, defensor dos direitos dos nativos, apesar dos tempos em que a escravatura acontecia e a temeridade podia custar a vida – o Sermão de Santo António aos Peixes é exatamente uma metáfora contra o tratamento discriminatório dos índios – para além da estupidez e da injustiça, denuncia ignorância imperdoável.

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