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O padre português que viveu um milagre com a madre Teresa de Calcutá

Diálogos, encontros e confidências fazem parte de uma série de memórias que o padre Luís Sequeira guarda do tempo em que privou com a madre Teresa de Calcutá e que incluem também um “milagre” vivido na primeira pessoa.

Um dos principais momentos que recorda desde que a conheceu na década de 1980, por ocasião de uma das suas visitas a Macau, foi em 1992, quando teve o “privilégio” de orientar um retiro das Missionárias da Caridade, em Calcutá, que a madre Teresa presenciou.

Não fora o primeiro nem o último – o padre Sequeira, hoje com 67 anos, correu mundo a orientar retiros da congregação fundada pela madre Teresa, declrada santa este mês. Tanto que “durante pelo menos 20 anos” não foi “descansar” a Portugal, recebendo “das irmãs que trabalham com os mais pobres os presentes mais ricos”: uma “riqueza humana e espiritual”, mas também “cultural” de poder “andar pelo mundo fora”.

No contacto mais próximo com a Nobel da Paz, as experiências foram “várias”.

Recorda a sua imagem “pequenina” e “frágil”, “aquela posição típica dela na igreja da casa-mãe, sempre juntinho de uma porta, quietinha”, o episódio de um homem que lança para a frente do carro em que seguiam vindos de uma aldeia para lhe prestar veneração tocando-lhe nos pés; ou o do sinaleiro que manda parar o trânsito quando a avista dentro do automóvel ao lado do condutor.

“Havia assim coisas, mas ela muito calma não se desconcertava”, enfatiza à agência Lusa.

Para o padre Luís Sequeira, ficou também gravada na lembrança a “delicadeza” do gesto de “profundíssima humanidade”, reflexo da “visão mística da presença de Deus”, quando a madre se baixa para tocar com o dedo uma gota caída do cálice, que segurava nas mãos enquanto o acompanhava no ato de dar o pão.

Recorda também as palavras murmuradas depois da cerimónia em que foi agraciada com o título ‘Honoris Causa’ pela Universidade de Hong Kong: “Não me deixaram falar de Deus”.

Já a título pessoal, o jesuíta português invoca um “momento especial” em que contou com a voz amiga numa situação difícil vivida em Macau, como diretor de um colégio. “Levantou-se uma celeuma muito grande, de calúnias contra a minha pessoa – em que eu estava completamente inocente – e ela apoiou-me, por telefone, no sentido de ter coragem, dizendo para não desanimar e não entrar em ataques legais contra as pessoas que me estavam a fazer mal com difamação e mentira”.

A verdadeira marca foi, porém, o “milagre” que diz ter operado em si.

O padre Luís Sequeira esteve às portas da morte, depois de, em novembro de 2007, ter sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

O médico advertira-o logo que em 80% dos casos como o seu – em que o derrame atingia o cerebelo – os pacientes morrem; os restantes ficavam paralíticos. “Eu nem uma coisa nem outra”, diz o jesuíta, certo, porém, de que “não estaria exatamente num momento muito propício à vida”, ao ponto do seu superior estar a pensar na missa do funeral.

“Estou convencidíssimo de que estou [vivo] por obra e graça da madre Teresa”, a figura que invocou logo depois da Santíssima Trindade, a Nossa Senhora (de Fátima, porque é português) e Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, naquela hora de aflição, em que esteve sempre consciente.

“Tive umas ganas interiores de gritar interiormente pela madre Teresa”, conta, falando de “uma coisa muito instintiva”.

“Gritei-lhe: ‘Quero um presente especial’” – isto em inglês, a língua em que comunicavam. “Privei contigo tantos anos, estive 20 anos sem ir a casa para estar com as irmãs, e agora nada?”

O ‘diálogo’ aconteceu depois de os exames mostrarem que a hemorragia aumentara. Depois de três semanas internado em Macau, o padre Sequeira seguiu para um hospital de Hong Kong, onde o ‘scan’ surpreendentemente vem a revelar, pouco depois, a existência de praticamente nada.

“Como é que é isto? É claríssimo para mim, não tenho dúvidas de que isto aconteceu. Até cheguei a falar ao postulador da causa da madre Teresa”, indica.

A madre Teresa foi declarada santa no dia 04 de setembro, menos de 20 anos depois da sua morte, em 1997.

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