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O Felisberto, o samba e as cuecas

Felisberto era um rapaz alegre, tocava concertina e cantava quadras brejeiras. Não faltava a uma festa, a um bailarico ou a uma romaria. Por isso não lhe faltavam namoradas e  amigos.

Moleiro de profissão, tinha naquele tempo como missão levar a casa dos habitantes da aldeia a farinha que ele próprio moía no seu moinho do Nelho. Depois carregava com o milho que iria transformar em farinha para a semana seguinte. E assim sucessivamente…

Apesar de ser o burro a alombar com os sacos, era um trabalho árduo, exaustivo, de muitas horas a ouvir o monótono marulhar das águas do Cabrum e o raque-raque ininterrupto da quelha do moinho.

Acontece que, certa noite, estendido numa laje amaciada pelas águas caudalosas do inverno e pelo passar dos tempos, olhando as estrelas e o brilho da lua, tomou uma decisão que viria a mudar para sempre a sua vida: comprou passagem para, de barco, rumar a São Paulo, onde tinha amigos e familiares.

Como sucedia com os milhares de portugueses que na época se dirigiam a Terras de Santa Cruz à procura de melhores dias, desembarcou no porto de Santos e foi encaminhado para Jandira, cidade satélite da Grande São Paulo.

Habituado ao trabalho duro e conhecedor dos segredos da fabricação, não demorou a assumir o controlo da produção da «Padaria Jandira», que rapidamente ganhou fama e proveito.

«Pão gostoso e cheiroso», como diziam satisfeitos os seus clientes.

Entretanto, chegou o Carnaval. Felisberto não podia perder tamanha oportunidade.

Assim, naquela noite carnavalesca, aperaltou-se a rigor. Vestiu a sua melhor roupa, pôs brilhantina no cabelo e o chapéu de feltro que o acompanhara na viagem de Resende, sua terra natal, e anunciou, eufórico:

– Esta noite vou sambar! Esta noite vou sambar!…

E saiu…

Dois dias e duas noites depois – já a família e os amigos perdiam a esperança no seu regresso – Felisberto apareceu.

Vinha abatido, triste e faminto, envergando apenas as cuecas!

Na confusão do samba, alguém lhe cobiçou o «terno» que levara de Portugal…

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