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O estado da nação

© Pixabay

Quando quem manda valoriza essencialmente o supérfluo, o que em condições normais seria tido como grave, passa e nada acontece. Sinais dos tempos. De entre notícias selecionadas para serem exibidas ao país, no que só pode ter como critério razões de interesse público, o site do Ministério da Administração Interna publicou a avaliação de um blogue anónimo – o anonimato e a cobardia foram sempre amigos próximos – que classificou o presidente da República como “jumento do dia”. A obscenidade patrocinada pelo Governo aconteceu no exato momento em que Marcelo Rebelo de Sousa tomou posição pública sobre a necessidade de respostas às vítimas dos incêndios em Portugal. Fosse a decência razão imprescindível aos titulares de cargos públicos, o insulto ao chefe de Estado implicaria consequências. No mesmo dia, o responsável encontraria na porta da rua a serventia da casa. Mas em Portugal não. Questões de princípio contam pouco para a minoria que governa, tendo perdido eleições.

Quando se tratou de promover a imagem de António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa serviu e foi sempre extraordinário. Levamos na memória o abrigo interesseiro do primeiro-ministro ao presidente da República em 2016, em Paris, de guarda-chuva na mão onde, nem de propósito, se podia ler “Fidelidade”, perante as câmaras televisivas. O quadro abriu muitos noticiários e que jeito deu ao PS. Felizmente, agora que o Estado falhou tão clamorosamente, o presidente da República não teve dúvidas em relação à sua fidelidade primacial. Ficou do lado dos muitos portugueses que sofreram, mas não têm voz. O PS não perdoou e resvalou para a brejeirice desde o Terreiro do Paço. Paciência. Em certa medida, nada de novo.

Para o Governo, não se pode estar com o país, se nisso não se servirem os interesses do PS. Por algum a razão, o jornal oficial do partido, “Acção Socialista”, já critica abertamente Marcelo Rebelo de Sousa de “demagogia”, “populismo” e de “exorbitar os poderes constitucionais”.

Convirá talvez recordar que, a seu tempo, o antecessor no Palácio de Belém, Aníbal Cavaco Silva, também foi beneficiado com a tal ética republicana que, entre outros mimos, inspirou quem se lhe dirigiu assim: “Endoidou”, “isto não é um presidente, é um gângster”, “discurso miserável de um miserável presidente”, “este presidente é mesmo foleiro”, “provinciano”, “chefe de fação”, “torpedo”, “corifeu de lamúrias”, “o Cavaco”, “nada, zero, inútil, traidor, autocentrado, calculista, contraditório, que é formalmente presidente da República”.

Veremos como tudo acabará.

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