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Não é preciso de ir a Portugal

Recentemente o grupo de distribuição Delhaize trouxe a público uma campanha destinada à clientela portuguesa. Até aqui tudo bem, não fosse o slogan da mesma ter um erro de português. Este erro surge visivelmente duma tradução literal da mesma expressão em francês. “On n’a pas besoin d’y aller (d’aller)” passou a ser “não é preciso DE ir”.

Sem grande conhecimento do departamento de marketing do grupo Delhaize, arrisco-me a dizer este slogan foi produzido por alguém que julga saber falar a língua portuguesa. Mas este não é caso único…

Basta entrarmos, por exemplo, nos autocarros da cidade para por vezes nos depararmos com iguais pontapés na língua de Camões. Nos serviços públicos então não é bom nem reparar.

Num país em que um sexto da população é de origem portuguesa será assim tão difícil encontrar quem fale bom português por forma a que estas pérolas da tradução deixem de aparecer? Não acredito que seja. De qualquer forma o Ministério da Justiça possui uma lista de 38 tradutores ajuramentados para português.

Mas uma consulta a esta lista levanta desde logo alguma perplexidade. Começamos por ver que desses 38 tradutores alguns já faleceram e outros regressaram já ao país. Desta lista, só 10 foram certificados desde o ano 2000. Sendo que mais de metade tem este estatuto há um quarto de século ou mais, com 7 tradutores contabilizando mais de 40 anos de certificação.

Alguns desses tradutores são conhecidos da comunidade em geral e identificam-se-lhes já na fala portuguesa os trejeitos adquiridos da língua de Camus. Como quem diz: já não falam bem o português.

Vamos agora ver a lista de tradutores para francês.

Daqueles 38 tradutores para língua portuguesa temos 27 que fazem também traduções para francês. Aqui começa realmente a surpresa. Há deles que, apesar dos anos que acumulam de emigração apresentam um francês sofrível, limitado na expressão deixando antever o que se possa passar com a escrita.

Assim, não ser preciso “de ir” a Portugal numa campanha duma empresa será, por certo, erro muito menos grave do que aqueles que, como amiúde se vai sabendo, pontuam nos documentos destes bricoleurs da tradução que se fazem pagar como artífices de primeira água.

Entende-se que a certa altura a necessidade de tradutores, face à sua escassez, levou a que se ajuramentasse um pouco toda a gente que dissesse mais de 3 ou 4 palavras de enfiada numa língua. Mas os tempos são outros. Urge limpar essa lista e abrir a possibilidade que os mais jovens, muitos deles altamente qualificados, possam ter acesso a essa coutada dourada reservada.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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