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Esculturas de Rui Chafes na Gulbenkian de Paris

“Ver o invisível” nas obras de Rui Chafes e de Alberto Giacometti é a proposta da exposição “Gris, Vide, Cris” na delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris.

A mostra, que vai estar patente até 16 de dezembro, junta dois universos aparentemente opostos: de um lado, as esculturas em ferro, pretas e lisas de Chafes, do outro, as rugosas peças em bronze, gesso e terracota de Giacometti, mas há um “encontro” marcado pela busca “do vazio, do imaterial e do invisível”.

“Numa obra de arte é tão importante aquilo que se vê como aquilo que não se vê. Às vezes, até é mais importante aquilo que não se vê, porque uma obra de arte é apenas um fragmento de uma multidão de coisas que estão lá para trás e que não estão visíveis”, disse à Lusa o escultor português que, na segunda-feira, entrou na coleção do Centro Pompidou com as obras “Carne Invisível” e “Carne Misteriosa” (2013).

A peça “Au-delà des yeux” (“Para além dos olhos”), de Rui Chafes, é “um bom resumo da exposição” – no entender do escultor –, e “está muito relacionado com a ideia de ver o invisível, de ver o que não se vê”, de acordo com Helena de Freitas, a comissária da exposição, que propôs o “encontro” entre o artista português, que nasceu em 1966, e o artista suíço, que morreu em 1966.

Em “Au-delà des yeux”, o visitante entra na obra de Chafes para ver Giacometti: às escuras, num corredor com paredes de ferro pretas, perde-se a noção de espaço à procura de pequenos orifícios e poucos raios de luz que revelam as frágeis e pequenas esculturas de Giacometti. É no vazio, na solidão, no isolamento, na concentração e no silêncio que se aspira a atingir a “visão pura”.

“No fundo, há um encontro físico mas esse encontro físico une-se a partir desses valores do sensível e do imaterial. Não há aqui nenhuma ideia de apresentar algo que se complemente do ponto de vista físico. O trabalho do Rui Chafes é particularmente interessante porque atinge aquilo que é essencial no trabalho de Giacometti que é ver, como representar o invisível”, descreveu à Lusa Helena de Freitas.

A exposição tem sete esculturas de Rui Chafes, seis concebidas para este projeto, entre as quais obras que “permitem ter um olhar diferente e que nunca aconteceu” perante as peças de Alberto Giacometti, “um dos maiores escultores do modernismo, senão mesmo o maior” e “uma figura isolada em todo o século XX como o topo de uma montanha que está sempre a ver-se”, de acordo com Chafes.

As 11 esculturas e os quatro desenhos de Giacometti foram escolhidos pelo artista português e pela comissária que, desde o início, procuraram o “aspeto menos formal, mais desmaterializado e mais arriscado do trabalho” do escultor, e foram buscar obras “muito pouco expostas e duas inéditas”, realizadas entre 1932 e 1962.

Como a “escultura é sempre uma linguagem no espaço” para Rui Chafes, a exposição foi pensada para o “espaço quase doméstico” da Gulbenkian de Paris e, por isso, há “algumas peças de Giacometti que vivem soltas no espaço” com as esculturas de Chafes, “não em confronto mas em coexistência”.

“Desde o início que eu trabalho com sombras e com acontecimentos no espaço. Ou seja, uma escultura não é um objeto, é um acontecimento no espaço. É um acontecimento que ocorre perante os olhos de quem sabe ver. É isso que eu faço: tentar, através do ferro, que aconteça alguma coisa no espaço que algumas pessoas consigam ver”, contou Rui Chafes.

“Conseguir ver” implica, também, não perder o equilíbrio quando se entra, por exemplo, na “Lumière” inclinada de Chafes para se aterrar na “Toute petite figurine” de Giacometti.

O título da exposição, “Gris, Vide, Cris”, é oriundo de um poema sobre a morte de Alberto Giacometti, “três palavras difíceis de pronunciar e de ouvir”, que têm “sentido no encontro dos dois artistas” e que são “reveladoras de alguma estranheza e incomodidade” porque “esta não é uma exposição confortável”, avisou Helena de Freitas.

No percurso desconcertante de “Gris, Vide, Cris” destaque, também, para uma obra feita “a quatro mãos” de dois artistas que nunca se conheceram: “La Nuit”, de Chafes, acolhe “Le Nez”, de Giacometti, e ecoa com o título da exposição.

“’Le Nez’ parece a cabeça de um animal como se estivesse a dar um grito no seu encontro com a morte. A diretora da Fundação Giacometti, Catherine Grenier, colocou o desafio ao Rui Chafes de construir um suporte, uma escultura, para apresentar a quatro mãos ‘Le Nez’. É aqui que a exposição se galvaniza, é evidentemente na forma de um grito”, concluiu Helena de Freitas.

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