De que está à procura ?

Colunistas

É o islão a caixa de Pandora da civilização?

Dizer que «Alcorão não apela à guerra, mas à justiça» como faz o Xeque David Munir (Imã da Mesquita de Lisboa, e com explicações eufémicas sobre o apelo do Corão à violência) é torcer e esconder a realidade literal e factual da linha oficial islâmica; uma tal afirmação sobre muitas suras do Corão faz lembrar um recurso a frases do tipo de interpretação das Sibilas sob inspiração de Apolo! Entre a objectividade das frases do Corão e uma interpretação individual (não oficial: o islão não permite anotações interpretativas ou explicativas do Corão) esconde-se a realidade das intenções numa confusão sempre oportuna, à margem das obras que se praticam; em tempos modernos, o recurso à ambiguidade como maneira de se desenvencilhar de situações embaraçosas não ajuda os muçulmanos nem os interlocutores.

Naturalmente, um público pouco informado dá-se por contente com o primeiro aperitivo que se lhe apresente para alimentar a mente. Já vai sendo tempo de entrarmos num diálogo sério e com exigência, num encontro de olhos nos olhos de modo a deixar-se o estilo de discurso de subterfúgio e a atitude amaneirada e diplomática dos nossos salões de discussão. Isto adia o desenvolvimento do islão e apenas serve o negócio dos diferentes funcionários, interessados em ajuntar públicos mal servidos, ao serviço de diferentes grupos de interesses (numa união enganadora subterfugiada no uso do pensamento politicamente correcto) que têm medo de discussões de alto nível filosófico, teológico, sociológico e antropológico e como tal sem lugar para controvérsia. Não há lugar para a controvérsia porque os grupos de interesse não estão interessados na verdade que interessaria ao indivíduo e ao povo.

É também para admirar a vontade de uma sociedade do mainstream meramente ouvinte e de boca aberta na escuta de explicações que nos distraem e desviam do mundo dos factos que determinam o nosso viver e o de gerações futuras.

David Munir conhece certamente o princípio islâmico da Hudaybiyyah (método de enganar e obter vantagens). Esta tradição assenta no tratado de paz assinado por Maomé em Hudaybiyyah e onde este  se compromete a não atacar a cidade de Meca por um período de dez anos; os representantes de Meca confiaram no acordo feito com Maomé mas este aproveitou-se da confiança dos adversários no acordo para se preparar e assim poder atacar Meca com sucesso; passados dois anos, atacou Meca que em 24 horas venceu completamente, porque inesperadamente atacada. Este proceder de Maomé passou a ser um princípio da estratégia de guerra para o islão (O mesmo princípio aliado à Taqiyya constitui, como se vê da História, a tática de comportamento adaptado por minorias islâmicas enquanto vivem numa sociedade em minoria: como exemplo bem próximo temos o Kosovo e a Albânia).

Yasser Arafat, assinou o acordo de Oslo com Israel em 1993 para receber terras dos Judeus. Passados 8 anos quebrou o acordo (nem esperou 10 anos) e declarou a segunda revolta em 2000, causando uma imensa confusão. Arafat conseguiu apaziguar alguns adversários que inicialmente estava contra o contrato, dizendo “Lembrem-se de Hudaybiyyah”!

Enganar e obter vantagens é também o outro princípio islâmico da taqiyya que consiste na prática da simulação (fingir a mundivisão), consiste, em casos embaraçosos, em dissimular a própria crença religiosa e em poder usar da mentira desde que isso sirva o Islão ou o crente! O princípio da Taqiya assenta na Sura 3:28, que diz: “Os crentes não devem tomar os incrédulos em vez dos fiéis como amigos. Quem faz isso já não tem nenhuma comunidade com Deus. É diferente, se estiverdes na frente deles (ou seja, os descrentes) e se tiverdes realmente medo deles”. A amizade com não muçulmanos só é justificada em caso de medo! Outras suras justificadoras da Taqiyya: Sura 49:13 e Sura 16:106

Uma mera tentativa de explicações do Corão para pessoas não muçulmanas, querendo interpretar a palavra jihad e outros solicitações do Corão à guerra e ao assassínio em nome de Alá, como algo descontextuado, vai contra a realidade muculmana e corresponde a lançar poeira sobre os olhos dos ouvintes, dado essa interpretação (que implicaria uma abordagem histórico-crítica) não ser praticada nos países islâmicos e continuar a não ser assumida pelas lideranças islâmicas. É preciso ter-se muita confiança sobre si mesmo e ser-se muito insensível à realidade dos factos para se conseguir passar a mensagem de que o islão é uma religião da paz. (O que não quer dizer que ele não tenha em si também potencialidades para se tornar numa religião da paz!)

A compreensão e o desconto que se pede para os apelos à violência nos textos sagrados islâmicos seriam de compreender se no islão fosse permitida uma abordagem que admita a análise histórico-crítica (que tivesse em conta o contexto humano e cultural da época e a pessoa de Maomé) e possibilitasse uma visão literária e não apenas literal dos textos (refira-se aqui, em abono da verdade, que também há algumas seitas cristãs que interpretam toda a Bíblia à letra; os seus estragos não são tão grandes porque se reduzem a grupos pouco numerosos e que não se afirmam como gueto). O que o Corão, a Sharia e os ensinamentos de Maomé precisam é de uma abordagem que lhes permita não continuar a interpretá-los hoje como se vivêssemos no contexto de Maomé. De resto muitos referentes do islão vêem-se obrigados a fazer uma apresentação enganosa de muitos textos.

Que os muçulmanos ajam como agem não é de admirar porque a sua estratégia de afirmação de grupo tem resultado em benefício da expansão islâmica, o que é de estranhar é o facto de pessoas formadas no espírito iluminista abdicarem das capacidades de discernimento e do espírito de procura da verdade em benefício das boas maneiras. Quem não for amigo da verdade também não serve como amigo do Homem.

Islão sem reforma é um engano para a ocasião

Quem for amigo do islão estará certamente interessado na sua reforma porque só desta forma ele poderá sobreviver ao saber da juventude muçulmana e contribuir para a paz no mundo.

Já não chega defender-se os interesses da religião ou da política, chegou a hora de se colocar a pessoa humana e o cidadão em primeiro plano independentemente das suas crenças ou tendências. A dignidade humana não pode ser posta de lado por muito amor e respeito que se possa ter por uma cultura ou religião. Só apresenta caracter de sustentabilidade a instituição que defenda os interesses do Homem que se expressam na inviolabilidade da dignidade humana e na sua liberdade. Sim, até porque Deus, na compreensão cristã, encarnou no Homem, independentemente da sua crença numa relação de amor que cria comunidade.

Isto de se querer apresentar exteriormente um islão vestido à maneira ocidental é um engano duplo ad intra et ad extra. Um engano para os de fora porque se faz dizer aos textos o que eles não dizem e que as autoridades islâmicas consequentemente impedem de dizer ad intra e é também um engano ad intra porque impede uma verdadeira discussão entre os funcionários do islão.

De facto estes são os mais perigosos porque são contra um islão moderno – um euro-islão em construção como alguns muçulmanos na Alemanha e não só. O muçulmano Prof. Dr. Bassam Tibi (na foto acima) já confessou ter de capitular da visão de um islão humanista europeu porque vê que a política e a grande maioria das instituições europeias promovem um “islão de lenço na cabeça” um islão da sharia, só interessado numa discussão de um islão torcido a viver da dúvida e da insegurança dos outros.

Para que o Corão seja entendido e compreendido como código de vida para os muçulmanos modernos, os funcionários do Islão terão de começar por permitir o acesso histórico-crítico aos seus textos e deixar de os aferir e interpretar à maneira de Maomé (profeta e guerreiro) sem atender à revelação divina através da História e dos tempos. Naturalmente, o Corão ao pretender ser tido na sua leitura como a inlibração de Deus (Alá) impede qualquer interpretação liberal.

A verdade não se encontra só no caminho caminhado

Naturalmente, não é possível eliminar as limitações humanas dos textos nem da História; pior ainda seria se permanecêssemos presos nelas. Assim também não é possível eliminar o preconceito da sua interpretação, atendendo às conotações da inspiração que cada época faz na sua interpretação como reacção à necessidade de se alinhar numa narrativa aberta mas coerente.

Cada pessoa, cada sociedade precisa de um certo enquadramento que lhe dê identidade e expressão própria e neste processo de identificação surge o problema dos caixilhos porque pretendem delinear as fronteiras da verdade quando ela é uma realidade sem fronteiras. Aqui se situa o problema do preconceito e a tática da confusão como maneira de se afirmar. O preconceito fundamenta a pretensão de se possuir a verdade no caixilho da própria visão ou entendimento. O Corão e o Islão pretendem-se como a verdade absoluta e derradeira da História humana, cometendo assim o equívoco de identificar os confins da verdade com a cultura árabe. Este comportamento verifica-se ainda hoje na prática das sociedades muçulmanas que consideram as minorias como seres de segunda ou terceira classe. (Porque não exigem os funcionários islâmicos da diáspora os mesmos direitos para as minorias que vivem nos seus sistemas como exigem para os seus crentes na diáspora; porque não se manifestam os representantes do islão na diáspora contra as barbaridades que seus irmãos cometem na África e na Ásia? – Não o fazem porque o Corão não o permite, não serviria o islão e o islão é contra a bilaterada em termos de igualdade de direitos religiosos e humanos).

Também a necessidade de uma “cidadania integrada, integradora e activa” não pode implicar uma discussão do faz de conta, pronta a engolir cobras e lagartos, doutro modo corresponderia a um marcar passo das culturas e abdicar do chamamento de todos à verdade (para lá dos enquadramentos culturais) a que toda a humanidade está chamada, em nome do desenvolvimento, a ver o mundo como um tecido comum que todos tecem. Só o conhecimento e o diálogo franco e aberto proveniente da diversidade religiosa poderão fomentar uma sociedade de alta competência, diversificada e oleada pelo respeito mútuo, sem cair na necessidade de se impor gato por lebre.

A preocupação da política pela igualdade e pelo equilíbrio dos grupos a agir no tecido social não deveria impedir um diálogo que para ser profícuo terá de seguir as regras do velho discurso da controvérsia. O respeito de uns pelos outros e o chamamento à descoberta da verdade não podem deixar-nos alinhar numa realidade do pós-facto em que a emoção e o oportunismo se tornem como orientadores da sociedade. A ideia e a procura da verdade são a luz que ilumina o nosso caminhar.

(Continua num artigo próximo que tratará sobre razões do desinteresse numa discussão honesta e digno sobre o islão)

António da Cunha Duarte Justo

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA