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Reino Unido

Antigo jornalista da BBC em Londres conta a sua vida em livro

O jornalista Gilberto Ferraz, antigo funcionário da BBC e correspondente de vários meios de comunicação social portugueses, vai lançar um livro que descreve como “uma panóplia de experiências, de vida” ao longo de 50 anos no Reino Unido.

“Eu não gosto do termo memórias, gosto mais de experiências e de observações. É a minha experiência na Inglaterra ao longo de 50 anos, uma Inglaterra completamente diferente”, descreveu à agência Lusa.

O livro intitula-se “Por Terras de Sua Majestade” e anuncia na capa a “viagem inolvidável de meio século de um privilegiado observador e informador”.

Natural de Tondela, Gilberto Ferraz, 82 anos, foi jornalista no quinzenário “Espada do Senhor” até receber um convite para trabalhar na secção portuguesa da BBC, em 1967, inicialmente para um contrato de quatro anos mas que acabou por se estender por 30 anos.

Além de jornalista, foi mais tarde fundador e responsável pelo Departamento de Estudos de Audiência de Língua Portuguesa, que incluía a secção brasileira e que tinha por missão avaliar as reações dos ouvintes do Serviço Mundial da BBC.

Do período inicial, recorda uma capital britânica “em período de transição”, ainda destruída pela II Guerra Mundial, que terminou em 1945, e onde o comportamento era mais cortês e sóbrio, que identifica com os tempos vitorianos.

“Quando conduzia, chegávamos às rotundas e eles diziam ‘primeiro você’ e eu hesitava ou então seguia. Hoje em dia, infelizmente, uma das coisas que se nota é o comportamento dos condutores – alterou completamente”, lamenta.

A integração, saúda, não foi difícil graças à “porta magnífica chamada BBC”, cujo prestígio o diferenciava das dificuldades sentidas pelos poucos portugueses que então viviam na cidade, sobretudo exilados políticos e clandestinos.

A partir de 1978, começou a colaborar com o Jornal de Notícias enquanto correspondente, funções que também exerceu, mais tarde, para a rádio TSF e, pontualmente, para a RTP.

Foi enquanto jornalista que acumulou uma experiência que considera “rica em entrevistas não só a individualidades políticas – muitas delas já faleceram, outras ainda estão vivas -, individualidades da vida socioeconómica britânica e mundial até e artistas de cinema”.

Das muitas histórias que inclui no livro conta um episódio com a atriz norte-americana Goldie Hawn, que, numa entrevista a propósito de um filme, ficou sensibilizada por Gilberto Ferraz fazer referência a séries de televisão que tinha feito no final dos anos 1960, como “Good Morning, World”.

“Ficou surpreendida por me ter lembrado dessas séries e o que ela me fez foi abraçar-me e dar-me um beijo. Eu fiquei chocado por a Goldie Hawn dar-me um beijo quando outros colegas jornalistas estavam presentes”, confessou.

Entre os momentos mais marcantes que acompanhou enquanto jornalista, destaca a morte da princesa Diana, em 1997.

“Estava a dar um filme na televisão. Nunca mais me esqueci, eram 01:45 horas da manhã e, subitamente, interromperam a emissão para dizer que tinha havido um acidente em Paris. Contactei a TSF e iniciei uma reportagem que foi praticamente até às cinco da manhã a relatar os acontecimentos à medida que os ia recebendo de Paris até à notícia da fatídica morte”, descreveu.

Mais recentemente, sublinhou, acompanhou o caso do desaparecimento de Madeleine McCann enquanto comentador para meios de comunicação ingleses, tendo-se insurgido contra um texto “abusador” de um colunista crítico do então embaixador português, António Santana Carlos, por não considerar “apropriado um embaixador ser tratado assim.

Uma campanha junto da entidade reguladora da comunicação social britânica levou, na altura, a um número recorde de queixas e forçou o diário Daily Mirror a retratar-se.

Como jornalista, assume como princípios a “fidelidade à notícia, o respeito pela audiência, seja ela o leitor, o ouvinte ou o telespectador, e o respeito às fontes”.

A propósito do respeito pelas fontes, conta no livro um episódio sobre o início da primeira Guerra do Golfo, em 1990, cuja iminência lhe foi comunicada em privado pelo então ministro da Defesa britânico, David King.

“Poderia ter sido uma caixa sensacional nesse período da minha vida, caso a tivesse publicado, mas como foi ‘off the record’, não podia publicar”, disse à Lusa.

O seu trabalho como correspondente no Reino Unido mereceu ser agraciado com a Comenda de Mérito, em 1995, por “altos serviços prestados ao Jornalismo”.

Além de apresentações esta semana na Embaixada de Portugal no Reino Unido e no Centro Comunitário à Comunidade Lusófona, em Londres, o livro terá também lançamentos com o autor em Lisboa e no Porto, em junho.

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